A dor era extremamente forte.
Exatamente isso - eu estava desnorteada. Eu não podia entender, não podia
fazer idéia do que estava acontecendo.
Meu corpo tentava rejeitar a dor, e eu era puxada continuamente para dentro
de uma escuridão que cortava segundos ou até mesmo minutos inteiros da
agonia, tornando muito mais difícil acompanhar a realidade. Eu tentei separálas.
A ilusão era negra, e não machucava muito. A realidade era vermelha, e me
fazia sentir como se estivesse sendo serrada ao meio, acertada por um ônibus,
esmurrada por um lutador premiado, atropelada por vacas, e submergida em
ácido, tudo ao mesmo tempo.
Realidade era sentir o meu corpo curvado, quando eu não podia ao menos me
mexer por culpa da dor.
Realidade era saber que havia algo muito mais importante do que toda aquela
tortura, e não ser capaz de se lembrar o que é. A realidade chegou tão
rapidamente.
Um momento, tudo estava como deveria ser. Rodeada por pessoas que eu
amo. Sorrisos. De algum jeito, que eu não gostava muito, parecia que eu
estava prestes a conseguir tudo pelo qual eu estava lutando.
E uma pequenininha coisa inconseqüente havia dado errado.
Eu assistia ao que minha xícara inclinou-se, sangue escuro derramando e
manchando o que era até então perfeitamente branco, e eu me movi
bruscamente em direção ao acidente por reflexo.
Dentro de mim alguma coisa estava sendo empurrada na direção oposta.
Rasgando. Quebrando.Agonia. A escuridão havia tomado conta e lavou uma
onda de tortura. Eu não podia respirar - Eu já me afoguei uma vez, mas isso
era diferente; Era muito quente em minha garganta.
Pedaços de mim se despedaçando, quebrando, fatiando-se.
Mais escuridão.
Vozes, agora gritando. Como a dor voltou.
“A placenta deve ser retirada.”
Alguma coisa afiada como uma faca rasgou-me - as palavras fazendo sentido
apesar de todas as outras dores. Placenta retirada - Eu sabia o que isso
significava. Significava que o meu bebê estava morrendo dentro de mim.
“Tirem-no daí!” Eu gritava para Edward. Ele não havia feito isso ainda? “Ele
não consegue respirar! Faça agora!”
“A morfina.- ..”
Ele queria esperar, me dar anestesia enquanto o nosso bebê estava morrendo?!
“Não! Agora -” Eu gritei, sem poder terminar.
Machas escuras apareciam sobre a luz do aposento enquanto uma dor fria
penetrava meu estômago. Isso parecia errado - Eu lutei automaticamente para
proteger o meu ventre, o meu bebê, o meu pequeno Edward Jacob, mas eu
estava fraca. Meus pulmões doeram, e o oxigênio se foi.
A dor havia desaparecido, embora eu tenha me segurado à ela. Meu bebê, meu
bebê, morrendo….
Quanto tempo havia passado? Segundos ou minutos? A dor não existia mais.
Confusão. Eu não conseguia sentir. Eu ainda não conseguia enxergar, também,
mas podia ouvir. Havia ar nos meus pulmões novamente, esfregando
bolhas ásperas pela minha garganta, para cima e pra baixo.
“Você vai ficar comigo agora, Bella! Você escutou? Ficar! Você não vai me
deixar! Mantenha seu coração batendo!”
Jacob? Jacob ainda estava aqui tentando me salvar.
Claro, eu tentei lhe falar. Claro que eu manteria o meu coração batendo. Eu
não havia prometido a eles?
Eu tentei sentir o meu coração, achá-lo, mas estava tão perdido dentro do meu
próprio corpo. Eu não conseguia sentir as coisas que devia, e nada parecia
estar no lugar certo. Eu pisquei e achei os meus olhos. Eu conseguia ver a luz.
Não para o que eu estava olhando, mas melhor do que nada.
Enquanto meus olhos lutavam tentando se ajustar, Edward sussurrou.
“Renesmee”
Renesmee?
Não o pálido e perfeito filho da minha imaginação? Eu senti um momento de
choque. E então a inundação de calor.
Renesme.
Eu forcei meus lábios a se mexerem, forçando bolhas de ar a se transformarem
em sussurros na minha língua. Eu forcei minhas mãos débeis para alcançar.
“Deixe-me…Dê ela para mim”
A luz dançou, rompendo as mãos de cristal de Edward. Seus músculos
estavam tingidos de vermelho, com sangue que cobria sua pele. E mais
vermelho em suas mãos. Alguma coisa pequena e relutante, molhada em
sangue. Ele passou o corpo quente para meus braços fracos, quase como se eu
estivesse segurando-a. A pele dela era quente - tão quente quanto a de Jacob.
Meus olhos se focaram; de repente absolutamente tudo ficou claro.
Renesme não chorou, mas respirava rápido, como se sentisse dor. Seus olhos
estavam abertos, e sua expressão era tão chocada que chegava a ser engraçada.
A pequena, perfeita redonda cabeça era coberta por espessa camada de fios,
cachos de sangue. Suas íris eram familiares - mas espantosamente - cor de
chocolate. Por baixo do sangue, a pele dela parecia pálida, como marfim
cremoso. Tudo além das bochechas dela , possuíam alguma cor. A pequena
face era absolutamente tão perfeita que me chocou. Ela era ainda mais linda
que o pai. Inacreditável. Impossível.
“Renesme” Sussurrei “Tão…linda”
A face impossível de repente sorriu - um vasto e deliberado sorriso. Atrás dos
lábios róseos havia uma dentição de leite completa. Ela abaixou a cabeça,
contra meu peito, lutando contra o calor. A pele dela era quente e sedosa, mas
não da mesma forma que a minha.
Então havia dor de novo - apenas uma onda de calor. Engasguei. E ela havia
ido. Meu bebe com cara de anjo não estava mais por ali. Eu não podia vê-la ou
senti-la.
Não! Eu queria gritar. Devolva-me ela!
Mas a fraqueza era muito grande. Meus braços caíram como se fossem
mangueiras de borracha por um momento, e então, eles não sentiam nada. Eu
não podia senti-los. Eu não podia sentir a mim.
O escuro tomou conta de meus olhos mais forte do que antes. Assim como
uma cegueira espessa, firme e rápida. Cobrindo não apenas meus olhos, mas
eu inteira com um peso esmagador. Era exaustivo lutar contra isso. Eu sabia
que era muito mais fácil desistir. Deixar essa escuridão me puxar para baixo,
baixo, baixo; para um lugar onde não existia dor e medo, e nada para temer
ou se preocupar.
Se eu estivesse apenas por mim mesma, eu não seria capaz de lutar por muito
mais tempo. Eu era apenas uma humana, que agora já não possuía a força
humana. Eu tentei manter o sobrenatural por muito tempo, assim como Jacob
disse.
Mas isso não era apenas sobre mim. Se eu não fizesse a coisa certa agora, a
escuridão do nada me apagaria, e eu o machucaria.
Edward. Edward. Minha vida e a dele misturadas numa mesma estrada. Corte
um, e cortará ambos. Se ele fosse, eu não seria capaz de viver por muito
tempo. Se eu for, ele provavelmente não irá viver muito mais. E um mundo
sem Edward seria completamente sem graça. Edward tem que existir.
Jacob - que disse adeus várias e várias vezes mas sempre voltava quando eu
precisava dele. Jacob, que eu feri tantas vezes de forma criminosa. Eu o estaria
machucando novamente, e ainda da pior maneira? Ele permaneceu comigo,
apesar de tudo. Agora, tudo que eu fiz, foi pedir para que ele ficasse.
Mas aqui estava tudo tão escuro que eu não podia ver qualquer um de seus
rostos. Nada parecia real. Isso tornava difícil não desistir.
Eu me mantinha empurrando contra a escuridão, no entanto, quase um reflexo,
uma reação involuntária. Eu estava apenas resistindo. Eu estava apenas
resistindo, não me permitindo ser esmagada completamente. Eu não estava no
Atlas, e a escuridão parecia tão pesada quanto um planeta; eu não podia ver o
ombro dele. Tudo o que eu podia fazer era não ficar completamente apagada.
Era uma espécie de padrão para a minha vida - eu nunca tinha sido forte o
suficiente para lidar com as coisas fora do meu controle, para atacar os
inimigos ou impedi-los. Para evitar o sofrimento humano e sempre fraca, a
única coisa que eu nunca fui capaz de fazer foi continuar. Resistir. Sobreviver.
Eu tinha sido suficiente até certo ponto. Teria de ser suficiente hoje. Gostaria
de suportar isto até chegar ajuda.
Eu sabia que Edward ia fazer tudo que pudesse, que não desistiria. Nem eu.
Eu me prendi à escuridão da não existência - presa a uma borda por apenas
alguns centímetros.
Não era suficiente - porem eu tinha determinação. À medida que o tempo
sobre a terra e a escuridão passava, ganhavam por poucos oitavos e dezesseis
dos meus centímetros.
Eu não podia chamar Edward mesmo pelo meu ponto de vista. Nem Jacob,
nem Alice ou Rosalie ou Charlie ou Renné ou Carlisle ou Esme …. ninguém.
Isso me aterrorizava, e me fazia perguntar se era tarde demais.
Senti-me eu próprio escorregamento - não havia nada para deter aquilo…
Não! Eu tinha que sobreviver a isto. Edward precisava de mim! Jacob.
Charlie, Alice, Rosálie, Carlisle, Renée Esme… Renesmee.
E depois, mesmo ainda não podendo ver, de repente eu podia sentir algo.
Como membros fantasmas, eu imaginei que podia mexer meus braços de
novo. E neles, alguma coisa pequena, pesada e muito, muito quente. Meu
bebê. Meu pequeno encorajador.
Eu tinha conseguido. Mesmo contra as probabilidades, eu tinha sido forte o
suficiente para sobreviver a Renesmee, para agüentá-la dentro de mim
enquanto ela não era forte o suficiente para viver sem meu apoio.
Aquele pequeno coração em meus braços fantasmas parecia tão real. Eu
segurei mais perto. Era exatamente onde meu coração devia estar. Segurando
fortemente a quente memória de minha filha, eu sabia que eu seria capaz de
afastar a escuridão por tanto tempo quanto fosse necessário.
O calor perto do meu coração ficou mais e mais real, cada vez mais caloroso.
Fervendo. O coração era tão real que era difícil acreditar que eu o estava
imaginando.
Fervendo. Desconfortavelmente agora. Muito quente. Muito, muito mais
quente. Como se tivesse segurado ferro fervente - minha resposta automática
foi largar a coisa chamuscante dos meus braços. Mas não havia nada em meus
braços. Meus braços não estavam ligados ao meu pescoço. Meus braços eram
coisas mortas, largadas em algum lugar ao meu lado. O coração estava dentro
de mim.
A queimação aumentou - aumentou e chegou ao ponto máximo e então
aumentou até certo ponto que ultrapassava a tudo que eu já havia sentido. Eu
senti a pulsação atrás do fogo em meu pescoço, e percebi que eu havia achado
meu coração novamente, desejando nunca ter o encontrado. Desejando que a
escuridão me abraçasse enquanto eu ainda tinha a chance. Eu queria erguer
meus braços e arrancar meu coração de dentro do peito - qualquer coisa que
causasse tal tortura. Mas eu não podia sentir meus braços, não podia mover
nem um dedo sequer.
James quebrando minha perna em baixo de seu pé. Aquilo não era nada.
Aquilo era um lugar confortável em uma cama feita de penas. Eu preferia
aquilo agora cem vezes mais. Cem vezes ser quebrada. Eu preferiria e seria
grata.
O bebê, quebrando minhas costelas, me quebrando pedaço por pedaço para
abrir caminho. Aquilo não era nada. Aquilo era flutuar em uma piscina de
água gelada. Eu preferiria mil vezes. E seria muito grata.
O fogo ficou mais quente e eu queria gritar. Implorar para alguém me matar
agora, antes que eu vivesse mais um momento com essa dor. Mas eu não
podia mover meus lábios. O peso ainda estava lá, me pressionando. Eu percebi
que não era a escuridão me segurando; era o meu corpo. Tão pesado.
Mantendo-me nas chamas que estavam mastigando o seu caminho para fora
do meu coração, espalhando uma dor inacreditável em meus ombros e
estomago, subindo queimando pela minha garganta, surrando o meu rosto.
Por que eu não podia me mover? Por que eu não podia gritar? Isso não fazia
parte das histórias.
Minha mente estava insuportavelmente limpa - afiada pela dor - e eu vi a
resposta tão rapidamente quanto eu pude formar as perguntas. A morfina.
Parecia ter sido a milhões de décadas atrás que nós havíamos discutido aquilo
- Edward, Carlisle, e eu. Edward e Carlisle esperavam que muitos analgésicos
ajudariam a afastar a dor do veneno. Carlisle havia tentado isso com Esme,
mas o veneno havia queimado na frente do medicamento, fechando suas veias.
Não houve tempo para que se espalhasse.
Eu mantive meu rosto suave e acenei com a cabeça, e agradeci minhas raras
estrelas da sorte que o Edward não podia ler a minha mente. Porque eu tinha
morfina e veneno juntos nos meu sistema antes, e eu sabia a verdade. Eu
conhecia que a dormência do medicamento era completamente irrelevante
enquanto o veneno queimava através das minhas veias. Mas não tinha como
eu mencionar esse fato. Nada que o fizesse mais relutante em me mudar.
Eu não havia adivinhado que a morfina teria esse efeito - que me prenderia pra
baixo e me amordaçaria. Manteria meu corpo paralisado enquanto eu
queimava.
Eu conhecia todas as histórias. Eu sabia que Carlisle se manteve quieto o
suficiente para evitar ser descoberto enquanto ele queimava. Eu sabia que, de
acordo com Rosalie, não adiantava gritar. E eu esperava que eu pudesse ser
como o Carlisle. Que acreditaria nas palavras de Rosalie e manteria minha
boca fechada. Porque eu sabia que cada grito que escapasse dos meus lábios
atormentaria Edward.
Agora isso parecia uma piada hedionda que eu teria o meu desejo realizado.
Se eu não poderia gritar, como poderia dizer a eles para me matar? Tudo que
eu queria era morrer. Nunca ter nascido. O conjunto da minha existência não
valia essa dor. Não valia passar por isso para mais uma batida de coração.
Deixe-me morrer, deixe-me morrer, deixe-me morrer.
E, por um tempo sem fim, isso era tudo. Somente a tortura inflamável, e meus
gritos inaudíveis, implorando para a morte vir. Nada mais, nem mesmo tempo.
Então isso foi infinito, sem começo nem fim. Um momento infinito de dor. A
única mudança veio quando, de repente, impossivelmente, minha dor dobrou.
A metade inferior do meu corpo, amortecida desde antes da morfina,
repentinamente estava em fogo também. Alguma conexão quebrada havia sido
curada - ligada pelos dedos ferventes da chama.
A queimação sem fim se encolerizou.
Poderiam ter sido segundos ou dias, semanas ou anos, mas, eventualmente, o
tempo veio a significar algo novamente.
Três coisas aconteceram juntas, crescendo uns dos outros, então eu não sabia
qual veio antes: o tempo recomeçando, o peso da morfina desapareceu, e eu
fiquei mais forte.
Eu podia sentir o controle do meu corpo voltar para mim com acréscimos, e
esses acréscimos foram as minhas primeiras marcas do tempo passando. Eu
sabia disso quando era capaz de movimentar meus pés e minhas mãos em
punhos. Eu sabia disso, mas eu não o fiz.
Apesar do fogo não ter diminuído nenhum grau - na verdade, eu comecei a
desenvolver uma nova capacidade para experimentar isso, uma nova
sensibilidade para apreciar, separadamente, cada língua empolada da chama
que lambia através das minhas veias - eu descobri que conseguia pensar
através disso.
Eu conseguia lembrar o porquê que eu não deveria gritar. Eu conseguia
lembrar a razão pela qual eu agüentei essa agonia insuportável. Eu conseguia
lembrar que, apesar de parecer impossível agora, havia algo pelo qual talvez
valesse à pena essa tortura.
Isso aconteceu bem a tempo de que eu agüentasse, enquanto os pesos
deixavam meu corpo. Para qualquer um me assistindo, não haveria mudança.
Mas para mim, enquanto eu lutava para manter os gritos e a dor trancados
dentro do meu corpo, onde eles não pudessem machucar mais ninguém, era
como se eu tivesse passado de ser amarrada a uma estaca enquanto queimava,
a me agarrar àquela estaca para me manter no fogo.
Eu tinha só a força necessária de ficar deitada ali sem me mover enquanto
carbonizava viva.
Minha audição ficava cada vez mais nítida, e eu conseguia contar a batida
esmagada e frenética do meu coração para marcar o tempo.
Eu podia contar os suspiros superficiais que arfavam através dos meus dentes.
Eu podia contar os suspiros baixos que vinham de algum lugar próximo a
mim. Esses se moviam mais lentos, então me concentrei neles. Significam
mais tempo passando. Mais até que o pêndulo de um relógio, aquela
respiração me puxou daqueles segundos queimando até o final.
Eu continuava a ficar mais forte, meus pensamentos mais claros. Quando
novos sons vinham, eu podia ouvi-los.
Tinha passos leves, o sussurro do vento passando por uma porta aberta. Os
passos ficaram mais próximos, e eu senti uma pressão na parte de dentro do
meu pulso. Eu não podia sentir o gelado dos dedos. O fogo mandou embora
cada memória do frio.
“Ainda sem mudança?”
“Nenhuma.”
A pressão mais leve, respiração na minha pele queimada.
“Não há sinal de que a morfina passou.”
“Eu sei.”
“Bella? Você pode me ouvir?”
Eu sabia, sem nenhuma dúvida, que se eu destrancasse meus dentes eu
perderia - eu gritaria e guincharia e me debateria e espancaria. Se eu abrisse
meus olhos, se eu sequer contraísse meu dedo - seria a chance de eu perder o
controle.
“Bella? Bella, amor? Você pode abrir seus olhos? Você pode apertar minha
mão?
Pressionaram meus dedos. Foi difícil não responder aquela voz, mas eu fiquei
paralisada. Eu sabia que a dor naquela voz agora não era nada comparada ao
que poderia ser. No momento, ele só temia que eu estava sofrendo.
“Talvez….Carlisle, talvez eu estava muito atrasado.” A voz dele estava
despedaçada, se quebrando na palavra atrasado.
Minha respiração parou por um segundo.
“Escute o coração dela, Edward. Está mais forte do que o de Emmett estava.
Eu nunca ouvi nada tão vital. Ela vai ficar perfeita.”
Sim, eu estava certa em continuar quieta. Carlisle irá tranqüilizar ele. Ele não
precisa sofrer comigo.
“E sua - sua coluna?”
“Seus ferimentos não estão tão pior que os de Esme estavam. O veneno vai
cura-la como fez com Esme.”
“Mas ela está tão imóvel. Eu devo ter feito alguma coisa errada.”
“Ou alguma coisa certa, Edward. Filho, você fez tudo o que eu poderia fazer e
mais. Eu não tenho certeza se eu teria tido a persistência, a fé que você teve
para salva-la. Pare de se culpar. Bela vai ficar bem.”
Um suspiro. “Ela deve estar em agonia.”
“Nós não sabemos disso. Ela teve muita morfina em seu sistema. Nós não
sabemos o efeito que isso vai causar.”
Pressão leve na área interna do meu cotovelo. Outro suspiro. “Bella, eu amo
você. Bella, eu sinto muito.”
Eu queria muito responder a ele, mas eu não faria sua dor ficar pior. Não
enquanto eu tinha força para me segurar.
Apesar de tudo isso, o intenso fogo estava me queimando. Mas tinha muito
espaço na minha cabeça agora. Espaço para considerar a conversa deles,
espaço para lembrar do que aconteceu, espaço para olhar para o futuro. E
ainda espaço sem fim havia sobrado para sofrer. E também para se preocupar.
Onde estava meu bebê? Porque ela não estava aqui? Porque eles não estavam
falando sobre ela?
“Não, eu vou ficar aqui.” Edward sussurrou, respondendo um pensamento não
falado. “Eles vão resolver isso.”
“Uma situação interessante.” Carlisle respondeu. “E eu pensava que eu já
tinha visto de tudo.”
“Eu vou lidar com isso mais tarde. Nós vamos lidar com isso.” Alguma coisa
pressionou a palma da minha mão.
“Eu tenho certeza, entre os cinco de nós, que nós podemos cuidar disso sem
ter um derramamento de sangue.”
Edward suspirou. “Eu não sei que lado tomar. Eu amaria tomar os dois lados.
Bom, mais tarde.”
“Eu imagino o que a Bella vai pensar. Que lado que ela vai tomar.” Carlisle
pensou.
Uma baixa risada. “Eu tenho certeza que ela vai me surpreender. Ela sempre
faz isso.”
Os passos de Carlisle foram embora e eu estava frustrada por não ter nenhuma
explicação. Porque eles estavam falando tão misteriosamente só para me
perturbar? Eu comecei a contar as respirações do Edward para contar o tempo.
Dez mil, nove mil e quatrocentos e três respirações depois, um diferente som
de passos entrou no quarto. Um pouco mais leve….rítmico.
Estranho que eu podia distinguir os minutos de diferença entre os passos como
eu nunca pude ouvir antes de hoje.
“Quanto tempo mais?” Edward perguntou.
“Não vai demorar agora.” Alice disse a ele. “Está vendo como ela está se
tornando clara? Eu posso ver ela muito melhor.” Ela suspirou.
“Ainda sentindo um pouco amarga?”
“Sim, muito obrigada por trazer isso à tona.” Ela resmungou. “Você ficaria
humilhado também, se você percebesse que você estava algemado pela sua
própria natureza. Eu vejo melhor os vampiros, porque eu sou um deles. Eu
vejo humanos, porque eu era um deles. Mas eu não posso ver essa estranha
meia-raça porque eles não são nada que eu já tenha vivido. Bah!”
“Se concentre, Alice”
“Certo. Bella está quase fácil de ser vista agora.”
Houve um grande momento de silêncio, e depois Edward suspirou. Foi um
novo som, feliz.
“Ela realmente vai ficar bem.” Ele suspirou.
“É claro que ela vai.”
“Você não estava tão confiante dois dias atrás.”
“Eu não podia ver a dois dias atrás. Mas agora que ela está livre de todos os
pedaços escuros, é muito fácil.”
“Você pode se concentrar por mim? No relógio - me dê uma estimativa.”
Alice suspirou. “Tão impaciente. Certo. Me dê um segundo.”
Nenhuma respiração.
“Obrigado, Alice.” Sua voz estava brilhante.
Por quanto tempo? Eles pelo menos poderiam dizer para mim? Seria muito
perguntar isso? Por quanto tempo ainda eu queimaria? Dez mil? Vinte mil?
Outro dia - oitenta e seis mil, quatrocentos? Mais que isso?
- Ela vai ser estonteante.
Edward resmungou baixinho. - Ela sempre foi.
Alice fungou. - Você me entendeu. Olhe para ela.
Edward não respondeu, mas as palavras de Alice me deram esperança de que
talvez eu não estivesse lembrando o monte de carvão que eu me sentia. Era
como se eu devesse ser uma pilha de ossos quebrados a essa altura. Cada
célula do meu corpo tinha sido queimada até virar pó.
Escutei Alice se movimentando fora do quarto. Escutei o ruído baixo do
tecido da roupa que ela usava raspando em seu corpo. Escutei o zumbido fraco
da luz pendurada no teto. Escutei o vento leve tocando o lado de fora da casa.
Eu podia escutar tudo.
Lá embaixo, alguém estava assistindo um jogo de beisebol. Os Marines
estavam ganhando por dois pontos.
- É minha vez - eu escutei Rosalie falar brusca para alguém, e houve um
pequeno resmungo em resposta.
- Ei, calma - Emmett avisou.
Alguém sibilou.
Eu tentei escutar mais, mas não havia nada além do jogo. Beisebol não era
interessante o suficiente para me distrair da dor, então eu escutei a respiração
de Edward de novo, contando os segundos.
Vinte e um mil novecentos e dezessete e alguns segundos depois, a dor
mudou.
Do lado bom da coisa, começou a desaparecer das pontas dos dedos das
minhas mãos e dos pés. Desaparecer lentamente, mas pelo menos era alguma
coisa diferente. Tinha que ser. A dor estava sumindo…
E então, o lado ruim. O fogo em minha garganta era o mesmo que antes. E não
era só fogo, mas agora estava seca também. Seca como ossos. Muita sede.
Fogo queimando, e queimando de sede… E também o lado pior: o fogo dentro
do meu coração ficou mais quente.
Como isso era possível?
Meus batimentos, que já estavam rápidos, aumentaram - o fogo deixou o ritmo
ainda mais frenético.
- Carlisle - Edward chamou.
A voz dele era baixa mas clara. Eu sabia que Carlisle iria escutar, se ele
estivesse dentro ou próximo a casa.O fogo saiu de minhas mãos, deixando-as
felizmente sem dor e frias. Mas foi para o meu coração, que ardeu quente
como o sol e começou a bater a uma velocidade furiosa.
Carlisle entrou no quarto, com Alice ao seu lado. Seus passos eram tão
distintos, eu podia até dizer que Carlisle estava na direita e um passo à frente
de Alice.
- Escutem - Edward disse a eles.
O som mais alto no quarto era o do meu coração elétrico, batendo no ritmo do
fogo.
- Ah - Carlisle disse - está quase acabando.
Meu alívio a suas palavras foi ofuscado pela dor excruciante no meu coração.
Meus pulsos estavam livres, e meus tornozelos também. O fogo tinha sumido
totalmente dali.
- Logo. - Alice concordou ansiosa. - Vou chamar os outros. Deve pedir para
Rosalie…?
- Sim, mantenha o bebê longe.
O quê? Não. Não! O que ele quis dizer, manter meu bebê longe? O que ele
estava pensando?
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