Parece que naquele final
de ano os meses se passaram tão rápido quanto meu desenvolvimento no
xadrez...
Se minha família ficou
intrigada pelo meu desejo e afinco em relação ao jogo, apenas demonstrou em
entusiasmo. Naquela mesma manhã em que pedi que me ensinassem a
jogar praticamente todos
queriam explicar e demonstrar como funcionava:
Eu me sentei em uma
cadeira que fora feita especialmente para mim, com um assento mais alto
e uma
pequena escada que me auxiliava a subir. Fiquei disposta ao lado do tabuleiro
enquanto Jasper e Edward se
sentaram um de cada lado das peças, os outros nos circundavam,
observando.
O objetivo do jogo me
era familiar, eu sabia jogar damas o que serviu de auxílio na aprendizagem.
- Primeiro você precisa
identificar as peças. – começou Jasper, que parecia bastante concentrado
- Essas pequenas na
frente são os peões. – continuou, enquanto levantava uma delas para eu ver direito – elas
“andam” apenas para frente, uma casa por vez...
- Mas, quando saem da
primeira fileira eles podem andar duas casas – informou Esme, em um tom que mais tarde eu
poderia classificar como didático.
- Os peões tomam o lugar
de outras peças movimentando-se na diagonal. – continuou Jasper, entendi isso como o
jargão “comer”, que usava no jogo de damas.
Eu chacoalhei minha
cabeça, demonstrando ter entendido.
- Essas daqui são as
torres. – mostrou Edward do outro lado, parecendo realmente entusiasmado – elas
andam em cruz, para frente e para trás, ou para o lado esquerdo e para o lado direito.
Elas podem andar quantas casas quiserem. Ele demonstrou o
movimento mexendo a peça no tabuleiro.
Eu assenti novamente e
milhares de sorrisos dispararam em minha direção, talvez como encorajamento.
Quando terminaram de
explicar o movimento de cada uma das peças, senti minha cabeça cheia. Jacob que havia
permanecido em silêncio por todo o tempo explodiu em uma gargalhada no momento em
que todos finalmente ficaram em silêncio. Eu encarei raivosa enquanto seu corpo todo
sacudia e ele segurava a ponte do nariz com os olhos fechados.
Alice, se virando para
mim, tentou me animar com um sorriso.
- Talvez seja mais fácil
para ela se visse vocês jogando...
- Edward e Jasper não! –
ouvi Bella, que começou a puxar meu pai da cadeira.
- Ela ia morrer de tédio
esperando que um deles se mexesse!
Carlisle
riu.
- Bella tem razão, ela
está vendo pela primeira vez... – seus olhos cintilaram, talvez percorrendo na memória o
momento em que ele havia aprendido o jogo. Há quantos anos teria sido?
Então Jasper e Edward se
levantaram (pareciam um pouco decepcionados) e deram lugar a Bella e
Emmett.
Eu percebi que
provavelmente estavam no mesmo nível. Já que não tinham séculos de
vida, como
os outros, talvez a mente deles fosse mais compatível.
Depois que eles jogaram
– Emmett ganhou a primeira e Bella a segunda rodada – Rosalie e Jasper se enfrentaram.
Naquela hora os outros já tinham saído do meu lado, apenas Bella e Edward ficando às minhas
costas, soltando comentários de vez em quando.
Passei a tarde toda
apenas vendo-os jogar, com meus pais sempre às minhas costas. Os oponentes se alternavam
assim que uma ou outra partida acabava, pacientemente, para demonstrar para mim como
as regras funcionavam.
Quando começou a
escurecer Jacob, que eu não pusera os olhos desde que havia rido de
mim bocejou
em algum lugar. Bella, então se inclinou
em minha direção pela décima vez.
- Não quer parar agora,
Renesmee?
Dessa vez eu concordei.
Levantei-me da cadeira e estiquei os braços, espreguiçando, minhas pernas estavam apenas
levemente incomodadas com tantas horas na mesma posição.
- Ah, finalmente cansou
baixinha? – Jake virou a cabeça em minha direção sentado no sofá.
Uma pergunta me
atravessou. Peguei na mão de Bella
que estava próxima a mim. Ela piscou, recebendo a
indagação.
- Nós decidimos que
vamos após o aniversário de vocês. – Edward respondeu por ela, na metade das
imagens. Os
outros apesar de estarem dispostos separadamente, prestaram atenção mudando
de posição
para nos olhar.
O nosso primeiro ano – o
de Bella como vampira e meu de vida – tinha apenas três dias de diferença. Bella nascera
como vampira no mesmo dia em que comemorara seu aniversário de 19 anos: 13 de setembro.
Eu havia nascido no dia 10. Alice estava do nosso
lado de repente. Um largo sorriso em seu rosto pequeno.
- Apesar da sua mãe não
me deixar dar uma festa apropriada, eu prometo que você vai adorar! – ela disse,
empolgada, enquanto Bella pareceu tremer.
- É só por que o seu
senso de apropriado seria convidar metade de Forks para comemorar com a
gente!
Alice balançou a cabeça
parecendo desapontada.
E então, a partir
daquele momento, tudo ao meu redor foi guiado por três fatos: aprender
a jogar
xadrez, os preparativos para a mudança e a proximidade de nossa
festa.
O final do mês de Maio
eu basicamente passei assistindo aos jogos, me atrevendo apenas a disputar contra Bella –
Jake quis jogar comigo apenas uma vez, e para seu desprazer eu
ganhei. De
novo. Estava começando a gostar disso.
Os Cullen se ausentavam
alternadamente para encontrar um local compatível com o nosso modo de vida. Bella havia
decidido adiar a faculdade enquanto eu estivesse em “fase de
crescimento”, Edward ficou na dúvida
se minha mãe agüentaria voltar para o Ensino Médio agora que tinha acabado de se
formar.
- Eu nunca fui como
vampira, vai ser completamente diferente. – respondeu em tom teimosamente decidido e
ao mesmo tempo inconformado. Meu pai tinha
chacoalhado a cabeça com um sorriso torto que eu aprendera a identificar
como amoroso e unicamente
para ela.
- E depois o que vão ser
mais três anos? Até lá talvez Nessie esteja tão grande que possa ir com a gente! Imagina
acompanhar minha própria filha na escola...
Ela meio que bufou com a
idéia.
- Queria ver que cara
Reneé faria se soubesse disso... – ela pareceu realmente incomodada então, meu pai
gargalhando a puxou de repente para um beijo que eu me virei com
uma careta
para não ver.
Finalmente o Canadá foi
o escolhido como a região mais compatível, sua parte mais ao Norte. O mês de Junho nos
surpreendeu trazendo as chuvas.
Bella decidiu apenas
contar a Charlie sobre a mudança quando esta tivesse mais próxima, então
continuamos
a visitá-lo semanalmente. Além disso, eu apenas saía de casa durante nossas
breves excursões de caça, que se
alternavam entre a companhia freqüente de meus pais e Jacob.
Eu me alimentava com
comida “normal” praticamente a cada dois dias, fora alguma
guloseima que me atraísse pelo
paladar quando íamos até Charlie e Sue estava com ele, ou quando Bella
ou Esme
tinham vontade de preparar alguma coisa para me testar (a primeira para não se
esquecer como costumava fazer e a
segunda para descobrir como se fazia).
Pelo menos três vezes
por semana, no entanto, eu tinha que me alimentar com sangue de animais. Conforme o
tempo passava, apesar de eu não sentir fome exatamente, ia ficando fraca
e precisava
de sangue para me recompor, era como se eu ficasse sem energia. Quando eu
tinha acabado de nascer eu
bebia sangue todos os dias, mas a opinião de Carlisle pelas conversas
com Nahuel
é de que ambas as minhas necessidades de alimentação iriam diminuir conforme eu
fosse crescendo. Meu
crescimento físico havia obviamente se desacelerado já que eu continuava com
a aparência
de uma criança de quatro anos e alguns meses.
Durante esse mês os
Cullen finalmente acharam uma casa na cidade de Whitehorse, estado
de Yucon.
Esme tinha afirmado que era linda, um casarão de cinco quartos com uma
pequena construção nos fundos do
terreno que originalmente servia para abrigar os empregados, e que serviria perfeitamente
como moradia para os Lobos.
Bella pediu para que
Esme ocultasse a primeira função da construção do conhecimento de
Jacob. Eu
também tinha a certeza de que ele não ficaria assim tão empolgado se soubesse
disso.
Eu comecei a ganhar de
Bella no xadrez exatamente no dia 23 de Junho. Depois da primeira
vez que a
venci, não perdia mais, não conseguia. Eu simplesmente sabia o que fazer, como
se meu cérebro tivesse captado
a essência de Bella em estratégia... O que ela não gostou muito.
Joguei com
ela exatamente dez vezes, ganhando todas, antes de Emmett finalmente pedir para
disputar comigo. Quando joguei
contra ele perdi.
Desci com raiva da
cadeira para dar uma volta pela vegetação fora da casa, notei um pouco
de alívio
nos rostos endurecidos de meus parentes, mas sequer adivinhei o motivo. Agora
que eu tinha achado que pegara
o jeito da coisa! Mas eu não desistiria tão fácil.
Demorei, no entanto,
menos tempo do que tinha demorado com minha mãe para “entender” Emmett. Depois de só
duas semanas (da mesma forma que havia acontecido quando jogara com Bella) ganhei
repentinamente a primeira partida. Após isso era como se houvesse um estalo
na minha
cabeça e eu descobrisse uma fórmula mágica, não conseguia mais perder. Bella
me enfrentou mais uma vez e
perdeu, descobri que eu ainda sabia como ganhar dela. Deduzi de repente que meu
entendimento das estratégias deles seria algo gradual e fiquei
ambiciosa cogitando um dia ganhar
de Carlisle, Edward ou Alice. Aquilo sim seria
fascinante...
Quando olhei em volta eu
percebia nitidamente a descrença nos olhos deles, Rosalie
chacoalhou a cabeça e pediu para
jogar e eu logicamente perdi. Ao invés de me sentir mal um choque
de entusiasmo tomou meu
cérebro, o desafio estava me impulsionando como um tipo de vício. O sol começou a se
atrever mais por entre as nuvens, era Julho e nossos passaportes
foram providenciados:
Esme e Carlisle teriam o
sobrenome Masen, era uma homenagem que às vezes faziam à mãe de Edward. Bella se
incomodou, disse que seria estranho trocar o sobrenome Cullen, ela
explicou que pensava no nome como
uma entidade. Meu pai pacientemente e com uma cara engraçada demonstrou que era muito
arriscado usar o mesmo sobrenome nos registros falsos enquanto estávamos em uma mesma
década. Ela então deu de ombros resmungando algo como “mais uma coisa de vampiros” e
“na mesma década, háha” acabando o assunto com um pequeno suspiro
exasperado.
Edward e Emmett seriam
Masen também, iam ser apresentados como sobrinhos naturais de Esme e Carlisle; Rosalie
e Jasper adotariam o nome Whitlock (original de Jasper) e Alice e
Bella ficariam como Cullen,
todos seriam “adotados” pelo jovem casal Masen, que pareciam muito novos para terem filhos
daquela idade. Bella pareceu satisfeita, afinal.
Eu achei divertida a
idéia de mudar de nome, mas não precisaria de nenhuma alteração no
meu, por
que até então eu não tinha sido “registrada” com nenhum nome em nenhum lugar e
eu ficaria escondida o tempo todo,
de qualquer forma. Apesar de meu crescimento estar mais devagar do que nos meses após meu
nascimento eu ainda crescia rápido demais para ficar próxima à sociedade. Ninguém
queria outra visita dos Volturi...
Eu só consegui ganhar de
Rosalie no xadrez quase no final do mês de Agosto. Jacob soltou um som estranho com a
garganta diante de meus gritinhos de vitória. – ele já havia se
acostumado tanto com meu costume
que agora tinha uma posição fixa ao meu lado, sentado em uma
cadeira embaixo da janela (para
ter alguma distração quando ficasse entediado).
Assustei-me quando de
repente minha família toda nos circundou, interrompi minha
empolgada comemoração com um
calafrio. O que era aquilo afinal? Fiz cara feia.
- Nessie, você pode
jogar de novo contra Rosalie, por favor? – pediu
Carlisle.
Um pressentimento
estranho me tomou, eles estavam claramente analisando nosso jogo e comecei a ficar ansiosa.
No entanto no minuto em que Rosalie mexeu seu bispo em uma posição aparentemente
defensiva meu cérebro mergulhou na resposta para seu movimento e esqueci que estavam nos
olhando.
Agora podia avaliar
claramente o processo: a sensação era de que meus pensamentos de repente entrassem em
contato com a energia emanada por ela, pelo cérebro dela, a reação
era automática. Não era
nenhum tipo de poder, só como se meu intelecto aprendesse e se acostumasse com meu
oponente, mas era tudo muito rápido, como em uma pequena explosão eu sabia.
Eu venci novamente e tia
Rose fez uma cara inconformada.
Eu olhei para cima e
percebi que todos agora encaravam Edward que olhava fixamente para
a parede.
- É incrível... –
murmurou finalmente – a concentração dela e análise de jogo são
perfeitas, parecem completamente
instintivas...
Ele se virou para Bella
e Carlisle a seu lado direito.
- Ela praticamente não
precisa pensar em nada, pelo menos não em uma velocidade que eu consiga
entender.
Eu pisquei totalmente
surpresa.
- Como se durante certo
tempo apenas coletasse sem perceber dados sobre o oponente e então sua cabeça
montasse o quebra-cabeça sem que ela se esforce. Eu quase não
consigo alcançar essa
parte...
Ele então voltou a me
encarar, eu ouvia com os olhos arregalados. Estavam realmente falando de
mim?
- Provavelmente ela
apenas está começando a exercitar essa parte de sua mente, é algo natural
dela...
- Isso é extremamente
interessante. – disse Carlisle com a mão segurando o queixo. Ele ficou em silêncio
por um segundo.
- Hum... – fez Edward
acompanhando os pensamentos dele, Bella e Jacob emitiram sons de evidente
curiosidade.
- Talvez essa parte do
cérebro dela começou
a se
manifestar no momento que Nessie nasceu. Como posso
explicar facilmente?
Ele olhou para as
próprias mãos um momento.
- Talvez seja como um
esconderijo, figurativamente como se fosse uma casa, uma parte inteira de sua mente
ativa, mas de um modo novo e diferente.
Ele parecia empolgado,
olhava agora os outros e gesticulava dando ênfase a cada
palavra.
- Primeiro começou
apenas absorvendo imagens e memórias, podia devolvê-las quando fosse provocado, como se
tivesse aberto um tipo de porta. Porém era tão poderoso que ela conseguia transmitir as
informações quando queria alcançando outras
mentes pelo tato, como uma conexão. Não há
nada de físico no processo, apenas uma energia criada por uma parte incrivelmente
impressionante de seu cérebro.
Ele passou mais um
milésimo de segundo em silêncio. Olhei ao redor e todos pareciam
beber suas
palavras, impressionados.
- Agora que ela está
trabalhando mais seu intelecto, essa parte além de armazenar imagens também armazena
as
reações, está aprendendo a
interpretá-las, assim pode
aprender com elas e depois apenas
devolve-las
processadas, adquirindo
conhecimento com elas.
Eu estava atônita,
talvez essa parte da minha cabeça tivesse acabado de pifar. Eu tinha certeza
de que não
tinha entendido nada do que acabavam de falar.
- Então ela é uma
espécie de supergênio? – perguntou Emmett, que pareceu surpreso demais.
- Pode ser encarado
deste modo. Um cérebro tão poderoso... – Carlisle parou de falar Bella e Edward olharam
pra mim um pouco preocupados.
- Mas... a cabeça dela é
tão pequena! – disse Jacob totalmente incrédulo, enquanto colocava a mão em cima
dos meus cabelos, cobrindo uma parte do meu rosto também.
E é claro que todo mundo
riu dele e de mim enquanto eu sentia o sangue correndo para o meu rosto.
Ouvi, porém, Carlisle
murmurar absorto.
- Imagine as
possibilidades...
Fanfic escrita por Nina