POV BELLA
Lembrava-me claramente de como eu descobrira que Alice estava se tornando uma prostituta.
Éramos somente nos duas, nossos pais haviam morrido em um acidente de carro quando eu tinha 18 anos e Alice 15. Sozinha, eu consegui um emprego e sustentei-nos de maneira digna e honesta, levando uma vida pobre, mas digna. Morávamos em um pequeno quarto/sala/cozinha e eu trabalhava de garçonete em uma simpática lanchonete no centro de Seattle enquanto Alice ainda concluía o ginásio.
Éramos totalmente o oposto: Alice era extrovertida, alegre, saltitante enquanto eu era rígida, séria e reservada, tanto que aos 24 nunca tinha namorado. Já sim trocara uns beijos com dois ou três rapazes, mas nada sério, não tinha tempo para perder com homens que eram em sua maioria cafajestes, tarados e espertos, querendo apenas se aproveitar de mulheres idiotas que caiam em sua lábia.
Meu tempo então era todo preenchido por Alice e trabalho, no qual eu dava duro durante 10 horas do meu dia. Depois que Alice concluiu o colégio me disse que tiraria um ano para pensar nas possíveis faculdades que poderia lhe interessar ao que eu aceitei somente aconselhando-a a conseguir um trabalho para que desde já aprendesse a se virar, amadurecendo para quando enfim se mudasse para a faculdade escolhida.
Foi aí que ela começou a sair muito à noite.
Perguntei diversas vezes a ela o que tanto ela fazia fora de casa até de madrugada e ela somente me respondia vagamente que saíra com alguns amigos. Discutíamos muito, Alice era “moderna” demais e eu certinha demais, uma tentando convencer a outra que sua maneira de viver era a correta.
O cúmulo foi quando ela começou a passar noites fora de casa, só chegando no outro dia. Comecei a desconfiar, chegando ao meu limite quando vi marcas de chupões em seu pescoço.
– O que é isso, Alice? – perguntei tocando na pele marcada de seu pescoço.
– Eu arranjei um namorado. – ela disse simplesmente fugindo do toque de meus dedos.
– Namorado? Eu conheço? – perguntei sentindo que havia muita mentira por baixo daquelas palavras.
– Não, mas logo eu o trago para que o conheça. – ela disse vagamente e mudou de assunto.
Só descobri quando recebi as fotos de um remetente anônimo.
Senti o mundo girar quando me deparei com as fotos de Alice em uma roupa provocante, rebolando em um palco com diversos homens na platéia a observando.
O que estava acontecendo com Alice? Então era isso que ela fazia todas as noites até de madrugada?
Quando ela chegou naquele dia, me encontrou sentada na poltrona de nosso quarto, as pernas cruzadas, as mãos em meu colo onde segurava as fotos recém recebidas.
– Onde esteve, Alice? – perguntei com voz suave e ela me encarou surpresa por um momento, engolindo em seco.
– Com meu namorado. – ela murmurou e eu ri sem alegria.
– Vai me contar a verdade ou vou ter que arrancá-la de você? – perguntei com voz perigosa, ela se afastando um passo de mim apesar de eu ainda permanecer sentada.
– Não sei do que esta falando. – ela murmurou e me levantei de uma vez, furiosa, lançando todas as fotos aos seus pés.
– Não sabe? Não sabe como tiraram essas fotos de você vestida de maneira tão vergonhosa? O que mais anda me escondendo, Alice? – gritei descontrolada e ela me olhou de olhos arregalados, impossibilitada de responder. – Vamos, porra! Me diga, o que anda fazendo? – urrei, meus punhos fechados ao lado de meu corpo.
– Trabalho em uma boate. Como dançarina e... – ela parou engolindo em seco.
– E? – encarei-a desconfiada, meus olhos semicerrados.
– Prostituta. – ela balbuciou, os olhos baixos.
– Você... você... uma... puta? – eu disse com dificuldade.
– O dinheiro é bom, Bella. É um trabalho como outro qualquer, e dá muito dinheiro. Agora que já sabe, posso pegar o dinheiro que economizei e nos mudarmos para um novo apartamento, nossa vida pode ser muito melhor e... – ela nunca terminou o que tinha pra dizer. Meu tapa atingiu seu rosto em cheio fazendo com que sua cabeça fosse atirada para um lado e ela perdesse um pouco o equilíbrio, cambaleando.
Eu estava estática e ofegante enquanto ela voltava a me olhar, uma de suas mãos no lado do rosto que minha mão acertara, seus olhos surpresos e cheios de lágrimas me fitando desconcertada.
– Bella?! – ele balbuciou e percebi que lágrimas escorriam pelo meu rosto, meu corpo todo tremia.
– Não fale mais o meu nome com essa boca imunda, sua puta! – rosnei trêmula e ela se afastou um passo ao ouvir-me chamá-la de puta. Tinha certeza de que aquilo tinha doído mais do que o tapa que eu desferira contra ela. – Saia da minha casa, suma da minha vida!
– Não... não pode fazer isso! – ela murmurou me encarando chocada. Aquilo doía, mas a sua traição, suas mentiras, tudo isso me deixaram fora de mim. E quando eu ficava nervosa agia sem pensar.
– Posso sim e estou fazendo. Tanto trabalho honesto por aí e você vira uma puta? – eu estava ainda incrédula. – Sofri pra te criar por esses três anos e é assim que me paga? É assim? Vá embora Alice. E se esqueça que existo.
– Bella... – ela ainda tentou, mas eu fechei meus olhos com força, recusando-me a ver seu olhar perdido que me doía mais do que qualquer outra coisa.
– Suma daqui... sua puta! – berrei e houve silêncio no pobre apartamento. Logo depois ouvi a porta se abrir e se fechar levando Alice embora de minha vida.
Cinco anos se passaram, cinco anos nos quais eu rejeitei qualquer aproximação por parte de minha irmã.
Até que James me veio dar a notícia de sua morte.
A culpa ainda me doía quando eu e James nos sentamos à mesa de uma lanchonete depois do enterro ter acabado.
– Tem certeza do que diz? Nunca pareceu aceitar a idéia de sua irmã ser... uma dançarina de boate. – ele disse enquanto bebericava seu café, seus olhos sagazes me sondando.
– Muitas coisas mudaram. Eu mudei e me arrependo do julgamento que fiz de minha irmã. – menti. Ele não poderia saber que eu tencionava encontrar o assassino de Alice dentro da boate na qual ele trabalhava. Não mesmo.
– Bom, o trabalho é o que você já deve saber: dançarina da boate e se algum cliente se interessar... – ele deu de ombros e eu balancei a cabeça afirmativamente mostrando que entendera. No fundo eu achava tudo estranho e nojento, mas tinha que encarar isso. Por Alice. Se ela o fizera, eu também o faria. – Não tem como lhe dar mais detalhes sobre o serviço sem lhe mostrar como é de verdade. – remexeu em seu bolso e tirou um cartão prateado. – Essa noite um carro irá lhe buscar. – seus olhos semicerrados me percorreram de cima a baixo, se detendo em meus seios pouco visíveis pela blusa comportada que eu usava. – É uma mulher muito bonita, Bella. Espero que tenha tanto talento quanto sua irmã. – ele me lançou um sorriso malicioso. – E espero que esteja pronta para ver de tudo... e fazer de tudo. – um arrepio de expectativa percorreu meu corpo e ele piscou-me um olho, se levantou deixando o dinheiro do café sobre a mesa. – Esteja pronta as sete da noite que um carro irá lhe buscar, como já disse. É bom que chegue mais cedo para que possamos testar seus “talentos”. – ele riu, mas logo depois ficou sério. – E sinto muito pela morte de sua irmã. Era uma boa garota. Espero que encontrem a pessoa que fez isso a ela.
E saiu me deixando sozinha.
Eu encontraria o assassino de minha irmã, nem que tivesse que o buscar no inferno.
(...)
Bufei encarando minhas opções de roupas com desprezo. Não podia me apresentar em uma boate a espera que me contratassem usando as roupas que eu comumente usava. Onde encontraria roupas mais... modernas a uma hora dessas?
De repente uma luz brilhou em minha cabeça e corri até um pequeno armário onde eu guardava umas peças de roupas que Alice me mandara no meu último aniversário. Não usara nenhuma peça por dois motivos: eu sabia de onde vinha o dinheiro e por que aquelas roupas não combinavam com minha maneira de me vestir.
Mas naquele momento eram exatamente o que eu buscava. Escolhi algumas peças e as vesti observando meu reflexo no espelho.
Nossa! Estava parecendo uma prostituta desde já!
Só que ainda faltavam algumas jóias e um sapato decente que levei algum tempo para escolher. No fim, acabei até gostando de meu novo visual e foi o que pensei enquanto mirava meu reflexo no espelho. Nem sabia que era tão... bonita!
Ouvi uma buzina do lado de fora e eu soube que eram eles. Peguei minha bolsa e saí, fechando a porta a chave. Quando cheguei a rua, mal acreditei no que meu olhos viam.
Ao me aproximar, um chofer todo vestido de preto no mesmo tom do carro desceu e se aproximou de mim.
– Srta. Swan, imagino. – ele disse numa voz muito formal.
– Exatamente. – eu disse num fio de voz.
– Queira me acompanhar, por gentileza. – ele disse no mesmo tom e o segui. Abriu a porta e acomodei-me com cuidado no banco de trás do carro perfeito.
Em silêncio, ele me conduziu pela cidade movimentada até chegarmos a frente de uma imponente casa noturna onde um letreiro luminoso já avisava.
Scorpius.
Venenoso, traiçoeiro, perigoso. Tinha que tomar cuidado com as pessoas desse mundo estranho e sinistro. Muito cuidado para não acabar como minha irmã Alice. Pois eu sabia que, quando ultrapassasse a barreira que separava meu mundo do mundo deles, não teria ninguém pra interceder por mim.
Seria uma nova Bella que passaria pela soleira da porta daquela boate. Uma Bella que procurava por vingança.
Para isso deveria me esquecer de todo e qualquer pudor, vergonha ou limite. Deveria me esquecer de quem realmente era e incorporar no personagem. Se Alice fora tão competente, eu também seria.
Por ela.
Ana Paula Fanfics
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