A História do Herdeiro
- Minha mãe chamava-se Dydime, era a rainha Volturi naquela época, quando Aro e Caius eram apenas conselheiros de meu pai. – Eu tinha muitas perguntas nadando na superfície de minha mente, perguntas que só se multiplicavam a medida em que Willian derramava suas palavras lentas e pesarosas no silêncio daquele quarto escuro. Ele olhou para mim, os olhos vermelhos cintilando como pérolas de sangue na penumbra e mais uma vez foi como se ele lesse a confusão em meus olhos. Um sorriso pesaroso brincou nos cantos de seus lábios, uma comoção constrangedora toldou seu rosto tão jovem e bonito.
- Não sei ao certo por quê estou lhe contando essas coisas tão velhas e inúteis, mas acho... Bem, talvez te ajude entender algumas coisas, ou talvez não ajude em nada. – Ele suspirou. – Mas se quer ouvir, eu te contarei tudo desde o começo. Quem sabe meu fardo seja um pouco atenuado, o que eu duvido... Entenda, nunca contei isso a ninguém. – Não sei muito bem o que me fez querer ouvir as histórias de Willian, ou entender um passado tão remoto de sua vida, talvez eu quisesse apenas não pensar em Jacob, não mais escutar sua voz me chamando. Talvez eu estivesse com tanto medo de encarar a realidade, que qualquer oferta que me protegesse, por poucos momentos, de toda minha dor, bem, eu aceitaria grata.
- Quero ouvir sua história Willian. Por favor, conte-me. – Sussurrei, com medo que minha voz falhasse e traísse o desespero que eu tentava conter arduamente dentro de mim. Ele acenou lentamente com a cabeça, como se procurasse uma forma de começar. Os cabelos castanhos cintilavam na escuridão, a luz das velas sombreava seu rosto delicado e impetuoso.
- Minha história começou muito antes do dia em que nasci. Marcus, meu pai, era o soberano dessas terras. Era um bom rei, protegia a cidade das guerras e dos saqueadores, protegia o povo contra um mau que parecia assolar toda Europa. De alguma forma Volterra era uma terra de paz em meio a guerras infindáveis, pestes de todos os tipos e uma miséria que se alastrava como o vento. O povo o amava, faziam comemorações e festanças em sua homenagem, até hoje eles comemoram o Dia de São Marcus pelas ruas de Volterra. Naquele tempo Aro e Caius eram os conselheiros de meu pai, ele os considerava sábios e dignos de confiança, os três viveram muitos anos juntos e por isso muitos pensam que eles estiveram juntos desde o início, mas Marcus sempre foi o mais antigo dos três e o governante de Volterra, por maior que fosse a amizade entre eles, meu pai era o líder desse povo e de toda guarda imortal que ele criou para proteger essa cidade e seus habitantes. Aro e Caius não concordavam com a modéstia de meu pai, achavam os desejos dele pequenos. Tudo que ele almejava era proteger o povo de Volterra dos perigos que nos cercavam, e isso era muito pouco para Aro, principalmente. Contudo, ele nunca tentou nada contra meu pai, era muito covarde para isso, apesar de ser o mais talentoso em toda corte. Meu pai deu à ele o cargo de comandante da guarda, em tempos de conflitos com nosso visinhos, era Aro quem ia negociar a paz ou aplicar e punição e erradicação dos problemas. Numa dessas viagens diplomáticas, Aro encontrou algo que ele realmente cobiçou. Algo que, mais tarde, o ajudaria a tomar o poder. Jane e Alec. – Ele pausou, desviando seu olhar das velas para meu rosto compenetrado. – Naquele tempo, os gêmeos eram apenas crianças de cinco ou seis anos. Aro não podia transformá-los, era terminantemente proibido dar a imortalidade a crianças, então Aro esperou. Em segredo ele visitava os gêmeos bruxos, como eram conhecidos em sua aldeia. Levava presentes para eles, prometia coisas para eles, estava encantado com os poderes deles, extasiado com a perspectiva de ter aqueles poderes ao seu alcance, a sua disposição. Acho que já pode imaginar por quê Jane é assim, insolente e arrogante. Os gêmeos cresceram rodeados pelos cuidados e mimos de Aro e meu pai nada soube a respeito até o dia em que Aro os transformou. Mas eu estou me adiantando. Nesse intervalo de tempo, quando Aro começou ter suas idéias de dominação com os gêmeos, aconteceu outra coisa muito importante. Minha mãe, Dydime, fez algo que colocou todos na corte em risco. Ela roubou o bebê de uma pobre viúva que vivia mendigando nos portões de Volterra, vendendo pêndulos e talismãs por preço de banana para turistas e comerciantes para comprar pão e trigo nas feirinhas do mercado. A mulher chamava-se Terezza, e era bem jovem na época. Gritou enlouquecida pelo seu bebê roubado nas praças da cidade durantes vários dias, até que Dydime a matou, para que não fosse descoberta. O povo logo esqueceu o incidente e a pobre artesã. – Willian parou, seus olhos se fecharam por um minuto. Ele inspirou uma golfada de ar e voltou seu olhar cansado para mim.
- Fui criado como um príncipe por Dydime. Marcus me amou também, apesar de ter desaprovado a atitude da esposa. Ela estava feliz, e isso o fazia esquecer e perdoar qualquer atitude impensada dela. Marcus a amava cegamente, fazia de tudo por ela, e Dydime era muito amargurada pelo fato de não poder ser mãe, um filho era tudo que ela sempre quis de Marcus, e a única coisa que ele não podia dar à ela. Eram parceiros a tantos séculos, e noite após noite Dydime queixava-se por não ter um filho. Era apenas questão de tempo até que ela tivesse a idéia que a levou ao roubo e ao assassinato de uma inocente. Marcus fechou os olhos para essa atrocidade, a felicidade de Dydime compensava qualquer ato imoral. Justo ele, o rei da justiça e igualdade... – Willian escarneceu, um sorriso amargo e maldoso cerrou seus lábios por um momento, me fez lembrar do “velho” Willian. Ele continuou:
- Bem, como disse, fui criado como um príncipe. Dydime me ensinou a ler e escrever em muitas línguas, ensinou-me artes e história antiga. Com a ajuda de Sulpícia e Athenodora, as esposas de Aro e Caius, ela me educou para ser um verdadeiro príncipe. Mas algo faltava em mim, eu sabia de alguma forma que não era filho daquela mulher branca e rígida como mármore polido. Eu olhava em minha volta e tudo que via eram rostos e olhos que nada tinham a ver com os meus. Dydime não me deixava sair do castelo, dizia que era perigoso para um príncipe andar entre o povo. Cresci entre essas paredes de pedra, nunca tinha visto as pessoas da cidade. Eu ouvia suas vozes altas e alegres ecoando nos pátios do castelo, e desejava conhecê-los. A Festa de São Marcus era uma tortura para mim, por quê eu ouvia as crianças correrem pelas ruas, ouvia o povo cantar e festejar, e tudo que eu queria era poder vê-los. – Willian parou, e por um momento o silêncio inundou o quarto, diminuindo seu tamanho, fazendo tudo parecer menor. As sombras nas paredes dançavam ao ritmo das velas, o cheiro da cera enchendo o ar. Minha mente estava vazia. Eu ouvia as palavras de Willian e imaginava todas aquelas coisas tão vividamente... Podia ver o jovem Willian encarcerado naquele castelo, o único humano no covil dos demônios. Podia ouvir os ecos das vozes vindas da praça central, as pessoas festejando o dia em que São Marcus livrou a cidade da peste de sugadores de sangue. Sentia-me vagar sem rumo por dentro daquela história que não era minha. Eu sentia a dor dele refletir em mim...
- Aos quinze anos, meu pai contou-me no que eu iria me transformar quando completasse dezoito anos. Disse que a imortalidade seria a herança que ele deixaria para mim. Eu fiquei horrorizado quando ele falou sobre o sangue, a matança inevitável, as vidas que eu teria de tomar durante toda eternidade. Dydime estava lá quando me contaram. Ela me olhava de um jeito... Como se eu fosse uma jóia preciosa, uma relíquia de valor inestimável. Eu via nos olhos dela todos os planos que ela tinha para mim. Queria que eu fosse o sucessor de meu pai, queria que eu conquistasse minhas próprias terras. Queria fazer de mim um monstro soberano de poder inigualável. E assim os anos passaram, e me foi ensinado tudo a respeito do destino que me esperava. Eu já entendia as diferenças que me separavam de meus pais e dos outros membros da corte. Eles eram imortais, e eu, apenas humano. Mas havia uma coisa, uma única coisa que eu ainda não entendia: como poderia eu ser filho daquela mulher? Como um ventre morto poderia gerar uma criança humana? Perguntei-lhe essas coisas milhares de vezes, e em todas elas Dydime me respondera a mesma coisa. “Você não nasceu de mim, mas nasceu para ser meu.” Pode imaginar como estava minha mente? Eu estava confuso, com medo e sentia uma raiva tão profunda dentro de mim que ás vezes assustava a mim mesmo. Sentia ódio o tempo inteiro. Eu queria apenas ser como todas as outras crianças, sem um destino terrível me espreitando no horizonte de minha curta vida. Eu queria ser mortal, sentir o frio do inverno e as brisas perfumadas da primavera. Queria andar pelas ruas de pedra de Volterra com o vento cálido do verão esquentando minha pele. Queria provar o vinho e o pão, queria ter filhos com uma mulher bonita e entregar a ela meu coração. Queria envelhecer vendo minha família prosperar. Mas tudo isso foi roubado de mim no momento em que Dydime me tirou dos braços de minha mãe mortal. – Willian cerrou os punhos, estremecendo. Olhei para ele, retribuindo seu olhar turvo. Ele suavizou seu rosto, respirando lentamente, desviando o olhar para as sombras na parede de pedra. – Mas eu não soube disso até muito tempo depois. A verdade é que nunca deixei de procurar as respostas para minhas infinitas perguntas, mas meus primeiros anos como imortal tomaram-me bastante tempo. Na noite do meu décimo oitavo aniversário, Dydime cumpriu sua promessa e me transformou. Apenas dois anos depois, quando já conseguia controlar razoavelmente minha sede, é que eu pude sair do castelo e caminhar pela minha cidade natal pela primeira vez. Aprendi a caçar, a me alimentar de humanos infratores, assassinos, ladrões... Mas para isso nós íamos caçar fora de Volterra, a quilômetros dos muros que protegiam a cidade de São Marcus. Não era permitido tirar nenhuma vida humana dentro desses portões, nem mesmo de meliantes, meu pai era bastante rigoroso com isso. Era uma grande ironia na verdade, o próprio chacal zelando pelo rebanho de ovelhas... – Escarneceu ele, seus olhos vermelhos enegrecidos pela penumbra se perderam por um momento, vendo coisas além do tempo e daquele quarto medieval. Estava absorto em suas próprias lembranças, preso por seus próprios fantasmas.
- Willian? – Sussurrei, tentando trazê-lo de volta para o presente. Ele olhou para mim envergonhado.
- Perdoe-me. O passado ainda tem o poder de me capturar ás vezes. Feridas profundas como as nossas não cicatrizam facilmente, talvez nem a eternidade seja o bastante para elas. – Ele suspirou, retomando sua expressão vazia. – Bem, onde eu estava? Ah sim, nos meus primeiros anos como imortal... Pois bem, o importante nessa parte da história é que você entenda os motivos que me levaram a matar minha própria mãe. – Estremeci, tentei dissipar de minha mente a imagem de minha mãe, obriguei-me a ouví-lo com atenção, ignorando a dor que lambia meu peito como chamas de um incêndio.
- Dydime me enojava, eu nunca fui capaz de amá-la como um filho. Era como se, cada vez que olhava para ela, eu visse a morte de minha mãe mortal, a mãe que eu jamais conheceria. E eu nem mesmo tinha provas de que fora ela quem matara minha mãe, mas sabia, de alguma forma, que a humana que me dera a vida já não vivia mais. Mesmo assim começei a procurar, as escondidas é claro. Perambulei pelas ruas da cidade perguntando e observando discretamente, até o dia em que ouvi um comerciante comentando sobre a cigana que lhe vendera um amuleto que não surtia efeito algum. Me aproximei dele no dia seguinte e ofereci bastante dinheiro por aquele amuleto, com a esperança de que ele me contasse algo mais. Comprei o amuleto e o homem disse que a tal cigana vivia perambulando pela cidade, vendendo amuletos e talismãs para os turistas, disse que ela era uma excelente tecelã também, mas que já havia morrido há muito tempo de tristeza pelo desaparecimento de seu bebê. Apontou-me a direção da velha cabana fora da cidade onde a jovem mulher vivia sozinha com seu filho sem pai. Fui até a tal cabana. Estava entregue as traças, um amontoado de destroços e ruínas. Revirei os restos dos indícios de sua existência, em cada pedaço de roupa, em cada tapeçaria inacabada, a cada grampo de cabelo que encontrei soterrados naqueles destroços, eu sentia que estava encontrando partes minhas, pedaços de mim que se perderam no tempo. De alguma forma eu soube que aquela tinha sido minha casa um dia. – Ele silenciou apenas por um momento, e antes que seu rosto oscilasse novamente ele continuou:
- Voltei para o castelo aquela noite e exigi a verdade de meus pais. Estava louco de ódio, inconformado por ter sido tomado dos braços de minha mãe para me transformar nessa coisa morta e imperecível. Marcus gritou comigo, tentava fazer-me ser razoável com Dydime, mas eu só conseguia gritar e gritar cada vez mais alto com ela. Dydime nem ao menos olhou-me nos olhos. Chamou-me de insolente, de filho ingrato... Lembro-me dos olhares de toda a corte. Estavam todos assustados com minha reação, acho que nunca imaginaram que eu reagiria tão mal à verdade que todos esconderam de mim desde o princípio. O único que parecia profundamente satisfeito com toda aquela confusão era Aro. Para ele qualquer discórdia dentro da casa de meu pai era vista como uma oportunidade a mais para seus planos. Naquele tempo Jane e Alec já estavam conosco, recém transformados, as mais novas armas de Aro infiltradas no exército de meu pai, a melhor chance que Aro já tivera de tomar o poder. Se eu não tivesse feito aquilo... Certamente seria uma questão de tempo até que Aro desse o primeiro golpe. Mas eu fiz isso por ele. – Willian levantou-se, fiquei encarando suas costas durante algum tempo, as sombras oscilando entre nós. Ele caminhou até a cômoda de madeira maciça, a luz das velas nos candelabros iluminou seu rosto delicado. Quando falou, sua voz estava sem vida.
- Havia conflitos entre nossa espécie em vários lugares próximos a Volterra. Era questão de tempo até que a guerrilha chegasse a nossos portões. Meu pai colocou o exército em movimento, ele não ficava muito tempo fora de casa, mas lembro-me que naquela noite ele fez questão de aplicar a punição nos líderes da ofensiva. Foi a primeira vez que Aro levou Jane e Alec para um combate. Era o teste que ele precisava para dar o primeiro passo contra meu pai. Os gêmeos bruxos exterminaram mais de cem vampiros recém criados e seus líderes, Aro estava em êxtase. Lembro-me de ter ficado no castelo, trancado neste mesmo quarto em que estamos agora, ouvindo o estalar das fogueiras que queimavam os restos dos inimigos de meu pai. Ouvi os gritos, trazidos pelo vento como uma serenata e tudo que conseguia pensar era no horror em que fui mergulhado. Aquela criatura que tinha tudo, ainda assim foi capaz de tirar a única coisa que eu tinha, minha humanidade. – Willian virou-se, encarando-me com um olhar impenetrável. – Não sei dizer-lhe o que exatamente me fez caminhar, cômodo após cômodo deste castelo, procurando por ela. Encontrei-a em seus aposentos, a esplendorosa raínha Dydime escovava seus cabelos negros como a noite quando adentrei silenciosamente pela porta. “Veio me acusar novamente filho ingrato?” Disse-me ela. Aproximei-me dela, sentindo todo meu ser sucumbir a uma espécie de letargia irreparável, não sentia mais nada naquele momento, estava verdadeiramente morto e a única coisa que queria, ela levá-la para a morte comigo. Abracei-a. Senti seu corpo pequeno em meus braços, o frio que emanava dela como um sopro de morte. Estreitei meus braços em vonta dela, envolvendo-a como uma mortalha. Ela não pronunciou nem uma palavra enquanto eu esmagava seu corpo, enquanto sentia seus membros de pedra quebrarem-se em minhas mãos e braços. Ela não disse adeus, nem disse que me amava ou odiava, apenas permaneceu em silêncio enquanto eu a matava, enquanto matava a mim mesmo junto com ela. Se eu pudesse chorar, creio que teria chorado aquela noite. – Ele suspirou, circundando os pilares de pedra que sustentavam a laje enegrecida. Parou alí, cruzando os braços no peito rígido e encarando-me com uma expressão profundamente vazia.
- Quando meu pai voltou, encontrou o castelo em chamas. Bem, pelo menos boa parte dele. Eu queimei os restos dela e permanecia alí, ao lado da pira que queimava como palha. A fumaça enchia meus pulmões, estava zonzo. Me tiraram de lá rapidamente, creio que se estivesse em condições de resistir, eu teria lutado para ficar alí com os restos dela, até que o fogo me consumisse também e lavasse meus pecados. Dydime já era apenas cinzas na tapeçaria italiana. Naquela noite, eu matei minha mãe e meu pai, poi Marcus morreu alí, olhando para as cinzas dela, o fogo que a queimou também o consumiu por inteiro. Ele nunca mais foi o mesmo. Quando saiu daquele quarto em chamas, Marcus era apenas uma casca oca. Foi o golpe fatal que entregou a liderança dos Volturi nas mãos de Aro. Marcus não queria mais nada sem ela, não tinha forças nem mesmo para querer a morte.
Mais tarde naquela mesma noite, perguntaram-me sobre o ocorrido. Meu pai agarrou-me pelos colarinhos exigindo saber quem fora o responsável por aquilo. Eu ví o ódio que senti nascer nos olhos dele e morrer no mesmo instante em que falei: “Fui eu, pai”. Ele me largou, cambaleando para tráz, desnorteado com a minha traição. Foi o tiro de misericórdia direto no coração de meu pai. – Eu podia sentir toda a dor do passado dele, tantas perdas, tantos erros, tanto sofrimento. Fiquei alí encarando-o na escuridão, tentando encontrar em seu rosto a força na qual ele se apoiou para se manter inteiro durante todos esses anos. Era um peso tão absurdamente grande... Um fardo impossível de ser carregado por um único homem.
- Me atacaram. – Olhei-o atônita. – Aro acusou-me de traição, disse que eu precisava ser punido. Mandou Alec e Jane para cima de mim e a única coisa que fiz, foi encará-los, esperando minha morte. Foi quando todos estacaram diante de meu poder. O poder que nem eu mesmo sabia que tinha. – Meu coração martelava, a história de Willian parecia nunca ter um fim e sempre me surpreendia. Que poder era esse?
- Todos os poderes são neutralizados pelo meu, eu simplesmente faço desaparecer qualquer dom que um imortal possa ter. Quando descobri o que podia fazer, não esperei Aro encontrar uma outra maneira de me destruir. Fugi de Volterra, deixei tudo para tráz. Meu pai e minha história amaldiçoada, levei comigo apenas a promessa de nunca voltar e o amuleto de minha mãe, aquele que comprei do velho comerciante. Em trezentos anos nunca ninguém foi capaz de me achar. Aro tentou por muito tempo, principalmente depois que trouxe Demetri para a guarda. Estive andando pelo mundo durante todos esses anos, procurando uma forma de me redimir. Acho que você deve estar pensando que caçar sua família a mando de Aro não é lá uma maneira muito honesta de me redimir. Mas acredite, eu não tive escolha. Aro encontrou um jeito de me punir afinal de contas, após trezentos anos ele encontrou um meio de me obrigar a ficar e usar meus poderes.
- Willian. – Intervi, minha voz reverberando pelos cantos do quarto escuro. Ele me olhou, confusão toldando sua face semivisível na penumbra. – Conte-me o que houve com minha família. Por favor, eu preciso saber. Sei que você esteve lá no dia em que me trouxeram para cá. Era o único jeito de Alice não ver vocês chegando, a única forma de meu pai não ver a mente de vocês. Você fez os poderes dele sumirem, não fez? Que outra forma haveria? Conte-me o que foi feito deles, por favor, por favor... – Eu estava chorando, e sentia que as lágrimas formavam uma força maciça dentro de mim, empurrando meu controle para fora, liquefazendo minhas defesas. Willian olhava-me envergonhado mas ao mesmo tempo emocionado por minhas palavras. Eu sentia que de alguma forma ele me ajudaria, mas tinha medo de estar me iludindo, afinal, havia ainda o bom motivo que Aro usou para trazê-lo até aqui, para obrigá-lo a serví-lo.
- Nós vamos te ajudar Nessie. – A voz suave emergiu da escuridão, fazendo as portas de carvalho estalarem. Alec adentrou o aposento como uma aparição, eu nem ao menos ouvi seus passos. Willian encarou-o com raiva e desprezo, mas Alec apenas retribuía meu olhar turvo. – Willian e eu vamos ajudá-la a sair daqui e encontrar sua família. – Alec olhou para Willian, que sorriu amargamente em resposta.
- E por quê devemos confiar em você, o pupilo prodígio de Aro? – Ameaçou Willian.
- Por quê eu sou o único que pode ajudá-los e por quê você não tem escolha. – Retorquiu Alec. Willian encarou-o contrariado, depois olhou para mim e perguntou:
- Você confia nele? – A pergunta ecoou dentro de minha mente como um sino, de novo e de novo e mais uma vez. Pensei em todas as coisas que vira Alec fazer por mim e em todas as coisas que sentia emanar dele, coisas que de alguma forma me alcançavam como laços e cercavam-me com uma confiança e segurança que eu só sentia com Jacob. Respirei fundo, sentindo o gosto das lágrimas em minha língua. Levantei, firmei meus pés no chão e disse para mim mesma que estava pronta para revidar.
- Sim.
Fanfic escrita por Anna Grey.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Expresse sua opinião e incentive a autora! O que achou deste capítulo?