AVISO

Querido leitores de momento o Cold Blood Fanfics encontra-se em manutenção.

Voltaremos em princípio ainda este mês com mais novidades, colunas novas, entrevistas com autores de fanfics, etc..., provavelmente também com uma nova cara.

Por isso, se virem novos conteúdos no blog, não se "assustem" nem pensem que voltamos ao ativo.

Quando estivermos terminando postaremos uma mensagem.

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A Equipa do CBF

Rising Sun - Capítulo 26

Pacto

- Vocês dois podem parar de discutir como um casal de velhas? – Retorqui. Aqueles dois discordavam em tudo e nem Willian nem Alec era suficientemente razoável para admitir seus erros. Os dois olharam para mim, Willian contrariado, Alec envergonhado. Era difícil de acreditar, mas eu sentia um carinho desproporcional ao tempo que os conhecia, especialmente Willian. Ele era um rapaz encantador, e não só por sua beleza inumana. Havia nele alguma coisa... Alguma força invizível que atraía as pessoas, despertando nelas sentimentos variados. Em boa parte delas, Willian só conseguia despertar raiva, mas eu sentia por ele um amor fraternal, algum tipo de ligação que se estabelece quase que imediatamente, eu agora queria tê-lo sempre comigo, como um irmão mais velho. Já Alec, bem... Alec era um assunto mais delicado. Diferente de Willian, ele não me olhava com olhos amigáveis ou de simpatia. Alec, em todo seu mistério e seriedade, conseguia me fazer temer diante do que via emanar dos olhos dele. Aqueles olhos ao mesmo tempo poderosos e frágeis. E também havia a inegável atração que eu sentia por ele, um sentimento um tanto turvo e confuso para mim, mas que me fazia desejar estar perto dele e me preocupar de uma forma quase impensável por sua vida e segurança. Se um dia tudo aquilo terminasse, eu sabia, como sabia que as estrelas estavam agora brilhando no céu, que Alec sempre estaria em meu coração e pensamento.
Suspirei, sentindo o peso de tantas coisas pairando sobre minha cabeça, sentindo inúmeras coisas emergirem em mim, sentimentos, medos, paixões, coisas que eu definitivamente teria que suportar e lidar sozinha. E aquela sombra densa, que ameaçava me engolir a qualquer momento, ainda estava alí, ao meu lado o tempo todo. O abismo gelado que se abriu em meu peito, permanecia silencioso dentro de mim, esperando o momento certo para me fazer sucumbir. E isso certamente aconteceria se eu jamais os visse de novo, se perdesse todos os motivos pelo qual vivi e me forçei a sobreviver até este momento. Tanto pelo que lutar, e quase nenhuma força restando em mim...
- Ei, você está bem? – Perguntou Willian naquele seu tom habitual, tentando disfarçar a preocupação de sua voz. Olhei para ele, e depois para Alec. Algo precisava ser feito antes que eles começassem a discutir de novo, e eu não tinha tempo para me lamentar. Não agora que a sorte estava um centímetro mais a meu lado.
- Estou bem, mas sabe de uma coisa? Vou ficar melhor ainda se pararem de brigar. Agora Willian, conte-me o que esteve fazendo desde que Aro o trouxe aqui, qualquer detalhe é importante. E Alec, conte-nos o que sabe sobre os planos de Aro e sobre Alice, onde ele está mantendo ela. – Os dois me encararam mudos por um momento. – Como é, desembuchem. – Willian bufou, mas sentou-se a minha frente, cruzando os braços sobre o peito.
- Aro me encontrou na Rússia, onde eu estava morando atualmente. Eu não esperava que ele estivesse na minha cola ainda, não depois de tanto tempo. Ele mandou, Félix, Heidi e Jane atrás de mim. Eu estava de guarda baixa, não esperava que ele ainda estivesse tão obstinado assim por meus poderes, e em geral sempre cubri bem meus rastros. Bem, resumindo, fui trazido até aqui sem saber nada a respeito do que tinha acontecido em Forks e nem que Aro estava tão desprestigiado com nossa espécie. Se tivesse ficado ciente do motim que vocês armaram, eu certamente teia aparecido. – Willian riu, mas algo em sua voz soou nervoza. Olhei bem para ele, o que o deixou constrangido. Eu tinha a sensação de que ele não estava contando tudo.
- Ok, vejamos se entendi. Aro demorou trezentos anos para te achar, para sequer achar uma pista sua, e de repente você relaxa sua guarda e é facilmente trazido até Volterra para cumprir ordens dele? – Willian desviou o olhar, seu rosto torceu-se numa expressão indecifrável.
- Conte a ela Willian, não há nada demais nisso. – Resmungou Alec, seu rosto perfeito completamente absorto nos detalhes da parede a sua frente. Willian o encarou.
- Não se meta na conversa seu almofadinha. – Falou Willian entredentes. Ele olhou para mim, meio constrangido e disse, suspirando:
- O nome dela é Lavínia. Nos conhecemos há dez anos na França, ela era só uma menina de dezessete anos na época, hoje é uma mulher linda.
- O-oquê? – Gaguejei.
- Sim, ela é humana. – Encarei-o perplexa. Willian se apaixonou por uma humana. Deus do céu, eu sabia melhor do que ninguém o sofrimento que isso causava em criaturas como nós.
- Mas você... Você não... O sangue, sabe...
- É difícil sim, admito, mas com o tempo eu me acostumei. E ela é tão linda, tão delicada... – Senti a adoração fluir na voz rouca dele, eu entendia perfeitamente como ele se sentia.
- E ela sabe sobre você? – perguntei.
- Sim, ela sabe de tudo. – Respondeu ele encarando o chão. Ficamos em silêncio por algum tempo e em minha mente as coisas se encaixaram de uma forma perturbadora. Aro estava usando Lavínia para obrigar Willian a ficar e usar seus poderes para acabar com cada um de nós. Esse era o estilo de Aro, o faro para pressionar o ponto fraco de cada um.
- Ele ameaçou matá-la? – Perguntei.
- Sim, e pelas regras tolas dele, isso não seria nada além que uma punição, afinal, ela é uma humana que conhece nosso segredo. – Disse ele taciturno. Eu vi o ódio brilhando em seus olhos vermelhos e isso fez algo vir a minha mente.
- Ela não se importa? Você sabe, do sangue. Pelos seus olhos dá pra perceber que a dieta vegetariana não faz seu tipo. – Não disse isso a ele como uma acusação, e ele compreendeu bem o que quis dizer, olhou-me tranquilamente e disse:
- Eu ainda sou a criatura que se odeia por ter que tirar vidas, mas eu também permaneci o homem que não fere inocentes. Lavínia sabe disso e me acha algum tipo de herói. – Ele sorriu sem nenhuma alegria em seus olhos. – Eu sei que me alimentar de assassinos, estupradores, traficantes e todo tipo de escória não faz de mim um ser melhor, mas faz eu me sentir menos culpado, livrando o mundo desse tipo de gente. Quem sabe um dia eu não resolva adotar o vegetarianismo também hein. – Brincou, dando uma piscadela. Sorri para ele, encorajando-o, embora eu mesma não fosse um modelo de fidelidade a causa.
- Eu só não entendo como conseguiram localizar você. – Perguntei mais para mim mesma do que para ele. Willian surpreendeu-me com uma resposta imediata.
- Ah mas eu sei exatamente. Aro nunca deixou de me procurar, mesmo sendo frustradas todas as suas tentativas de me localizar, ele nunca parou. Eu nunca fiquei num mesmo lugar mais que uma semana, e bem, quando conheci Lavinia na França, eu me demorei por lá uns bons três anos. Depois disso fomos juntos para Russía e Lavinia adorou o lugar. Comprei uma casa grande, do jeito que ela queria, e vivemos lá sete anos, e foi lá... O maldito rastreador de Aro me encontrou lá. Quando eu sentia alguma presença de nossa espécie eu tratava de inibir seus poderes logo, mas a Russía... Você não acreditaria na quantidade de vampiros que vivem por lá. Eu encontrei dezenas deles nos anos que passei em Moscou. Alguns de passagem, alguns poucos estabelecendo-se nas periferias da cidade. Durante os primeiros anos eu ficava alerta vinte e quatro horas, “desarmando” todos que se aproximavam demais. Mas depois de alguns anos eu relaxei, droga, eu realmente pensei que Aro tivesse me esquecido. Quando Félix, Heidi e Jane se aproximaram de mim, eu só pude sentí-los no último momento. Mas Aro foi esperto, eu conhecia muito bem o cheiro de Demetri, por isso ele não o mandou. Se Demetri tivesse se aproximado eu teria sido capaz de pegar Lavinia e me mandar de lá. Mas ele mandou Félix, por quê infelizmente meus poderes só funcionam com os dons, não surtem efeito algum com a força bruta. Neutralizei Jane na mesma hora, mas não pude fazer nada contra Félix, por quê a única coisa que aquele alí sabe fazer é desmembrar, morder, socar... Jane a pegou enquanto eu lutava com Félix, e bem, o resto você já sabe. Transmitiram-me a “oferta” de Aro e a única coisa que pude fazer foi me render, não suportaria vê-la morrer. – Willian me olhou, seus olhos grandes e infantis me encararam com um pedido de desculpa pelo que ele teve que fazer. Eu acenei para ele, tentando confortá-lo, tentando dizer que eu entendia. A cada nova parte que se encaixava em minha mente, eu sentia o ódio transbordando um pouco mais dentro de mim, e curiosamente esse ódio apenas me deixava mais fria. Sentia meu corpo fraco pela falta de sangue, mas meus músculos estavam retesados, eu não conseguia relaxar minha mandíbula. Meus nervos estavam no limite, não sabia o quanto mais poderia suportar antes de enlouquecer de vez. Se não fosse pela voz calma e ponderada que sussurrava para mim no fundo de minha mente, eu certamente teria surtado. Ela ficava me dizendo para ser forte, para não desistir de lutar, e eu dizia a ela: “eu não posso mais, não consigo mais...” Mas de alguma forma eu estava aqui, ainda de pé, ainda resistindo. Se todos caíssem, se tudo fosse exterminado, eu ainda estaria de pé. Até que meu coração pare de bater, era o que ele dizia.
O silêncio nos tomou mais uma vez, eu ouvia o leve farfalhar da respiração de Alec, sentado a meu lado, enquanto meu próprio coração trabalhava num ritmo cadenciado, enchendo o quarto com um som ritmado e constante. As velas eram apenas tocos diformes, pendendo nos castiçais de prata. Obriguei-me a quebrar aquele silêncio que nos cobria como um véu.
- O que Aro te pediu quando você chegou aqui Will? – Willian me encarou surpreso. Eu não sabia se era pela súbita quebra do silêncio ou se era pelo apelido informal que eu o chamara.
- Bem, eu estava muito louco de ódio. Foi tudo terrivelmente repentino para mim, ver esse lugar, andar novamente por esses corredores... A cada minuto que passo aqui eu ouço a voz dela me chamando, ouço as chamas consumirem o quarto dela, e o cheiro acre de seus restos queimando. Foi terrível voltar. Foi terrível encarar meu pai depois de tanto tempo, e ver que ele ainda é a casca oca vivendo na sombra de minha mãe, lamentando a ausência dela e minha traição por toda eternidade. Mas eu não tive escolha, tive que fazer um acordo com Aro pela segurança de Lavinia. Fiz ele trazê-la até aqui, onde eu podia ficar de olho nela, para certificar-me de que nada aconteceria a ela. E em troca eu faria o serviço. – Ele parou.
- Que serviço Will? – Perguntei impaciente. Ele suspirou e disse:
- Aro me entregou uma lista com dezesseis nomes. Eu teria que sair em busca daqueles imortais com Demetri e Félix e bem, fazer o meu truque mágico, se é que me entende. Mas além disso eu teria que ficar de olho em sua família, especialmente na vidente. Ela era a prioridade. Teria que bloqueá-la noite e dia. Imagina o quão difícil foi isso? Eu nem ao menos tinha a visto uma vez sequer, por isso precisamos nos aproximar, para que eu a sentisse... Como posso explicar? Olhe, entenda, é como se eu pegasse o “teor” dos dons de um imortal e o suprimisse. Mais ou menos como sentir o gosto dos poderes de alguém e simplesmente diluí-los. E foi isso que fiz com a vidente, depois com seu pai e sua mãe, e por último com o loiro das cicatrizes. – Explicou Willian. Busquei em minha mente as memórias que comprovavam aquilo.
- Lembro-me de uma certa inquietação de Alice há alguns anos. Lembro-me dela falando das visões que tinha com Aro, mas que pareciam fora de ordem, como se fossem repetições que voltaram para ela borradas e desconexas. Alguns dias depois ela disse que as visões tinham parado, simplesmente sumido. Ela só via coisas banais do dia a dia, como por exemplo o dia em que minha mãe e meu pai resolveram sair em uma segunda lua de mel. Alice estragou a surpresa deles, estava anciosa demais com a falta de novidades em suas visões. – Aquelas lembranças me machucavam mais do que eu deixava aparentar. Willian acenou, ponderando.
- Bem, a “interferência” inicial foi apenas minha presença. É uma coisa irritante, mas eu funciono como uma estação pirata ambulante. Mesmo quando não estou direcionando meus poderes a alguém, eu ainda interfiro um pouco, enfraquecendo ou falhando os poderes dos que estão a minha volta. Alec poderia tentar te cegar agora, e tudo que conseguiria fazer é embaçar sua visão, deixá-la turva. Quando consegui me aproximar e sentir o poder da vidente, eu cortei todas as visões dela e aos poucos fui liberando apenas uma parcela de seu poder. Seu pai não poderia ler minha mente tampouco, eu fico invisível a esse tipo de poder, por isso Aro me odeia tanto, telepatas ficam impotentes em minha presença. – Explicou ele. Eu escutava tudo com atenção total, até me esqueci por um momento de Alec ao meu lado. Ele estava silêncioso, era difícil saber se nos ouvia e se estava vagando, absorto em seus próprios pensamentos.
- Entendo. – Murmurei, sentindo as coisas se encaixarem em minha mente. Sem desanimar, continuei:
- E Zafrina? Por quê ela está aqui? – Olhei de Willian para Alec, os dois se entreolharam durante um momento, então Willian falou:
- Depois que neutralizei os poderes da vidente, a primeira coisa que Aro fez foi me mandar com Demetri atráz da amazona. – Willian parou, lançando um olhar taciturno para Alec.
- Mas por quê ela é tão importante para Aro? – Perguntei, seguindo o olhar de Willian para o rosto desconfortável de Alec. Ele olhou para mim, demorando-se um pouco em meus olhos e disse:
- Ela a quer Nessie – Suspirou. – Ele a quer como quer Alice. E ele as têm agora. – Porquê eu sentia que aquilo não me surpreendia? Alec continuou: - Aro é um colecionador, primeiro foi Jane e eu, depois Demetri. Alguns anos depois Renata. Exceto Willian, todos que Aro desejou ter, ele teve. Até que encontrou Alice e percebeu que ele a queria como não quis ninguém desde Jane e eu. Então ele viu você, uma criança imortal, metade humana, metade vampira. – Os olhos de Alec faíscaram em mim, como se ele próprio entendesse o desejo que ele mesmo tentava explicar. – Aro nunca viu nada tão surpreendente. Em todos os séculos que viveu, jamais pensou que encontraria alguém como você. A idéia o inebriava. E mesmo assim, você estava além do alcance dele. Longe dos planos que ele mesmo compôs sozinho enquanto meditava em seu trono, noite após noite. Ele precisava tê-la, precisava ter Alice, mas nada jamais foi tão intocável para ele. Vocês estavam tão além dos poderes dele. Quando saímos de Forks aquela manhã, nem a neve que cobria o solo era mais fria que o olhar de Aro. Ele fora derrotado, e não aprovou o gosto. Toda corte assistiu sua derrota, a batalha que ele travou sozinho apenas para conseguir uma pequena peça para compôr sua coleção. Mas Aro saiu de lá sem Alice, e com seus desejos multiplicados. Ele queria você também, seu pai viu isso na mente dele, por quê eu mesmo pude ver nos olhos dele. Durante todo o caminho me perguntei se minha vida valia a pena ser vivida daquela forma. Uma peça no grande tabuleiro de Aro. Matando por ele, tirando vidas e destruindo existências. Desmembrando clãs inteiros apenas para que ele tivesse mais uma iguaria em seu poder. E depois veio os anos seguintes, e toda caça as bruxas que Aro iniciou. Um por um eles os caçou, todos que se atreveram a testemunhar a seu favor, contra ele e seus desejos irrefreáveis, servindo-se do pretexto de que vocês espalhariam a discórdia em nosso mundo. Nesses sete anos, foram poucas as vezes que voltei para casa. Eu fui da América do Sul ao Egito, depois para o norte, para a Irlanda e de lá para Romênia. Cruzamos toda Europa atráz de nômades e seguimos para América, indo até as terras geladas do norte do Canadá. Minhas últimas ordens foram sua captura e escolta até aqui. – Alec parou, encarando novamente o vazio. Eu me sobressaltei com o discúrso dele. Havia dor naquelas palavras, havia descontentamento com ele mesmo, como se ele sofresse queimaduras internas. Lembrei-me das palavras dele no esconderijo no qual nos conhecemos. Ele disse que estava cansado da falta de propósito na qual ele tinha vivido toda sua vida. Usado por Aro desde que era apenas uma criança. Uma arma desde sempre. Apesar dele ter me tirado de minha família, eu não conseguia me obrigar a odiá-lo, não conseguia culpá-lo pelo que estava me acontecendo. Ele fora criado para cumprir ordens, para ser o que era, o que mais eu poderia dizer? Não era culpa dele...
- Bem, agora eu entendo muito melhor as coisas que aconteceram. Principalmente como os poderes de Alice e de meu pai não foram capazes de nos alertar sobre o perigo. – Falei, sentindo uma grande lacuna se preencher dentro de mim. Eu tinha que reconhecer que o plano de Aro era praticamente sem falhas, contudo...
Willian me observava silencioso, assim que surpreendi seu olhar me perguntei o que ele pretendia me ajudando.
- Por quê está fazendo isso? – Ele parecia já esperar a pergunta, pois sorriu levemente sem nenhum humor e disse:
- Acha mesmo que vou deixar Aro me usar? Acha que não fiz nada além de seguir as ordens dele durante todo esse tempo? – Perguntou, suas sobrancelhas arqueando em sua testa perfeitamente lisa. – Eu começei a agir assim que cheguei aqui. Eu cresci nesse castelo, conheço tudo aqui, tratei logo que traçar uma rota de fuga e assim que conseguir uma brecha eu vou pegar Lavínia e me mandar. Mas para isso eu precisava esperar você Ness. – ele sorriu-me. Estudei-o por um momento e disse:
- Até você me chamando assim? – Resmunguei. Willian deu de ombros
- Eu ouvi aquele transmorfo te chamando assim, você parecia gostar. – Desviei meu olhar rapidamente, tentado conter minha cara de nada e consequêntemente ví a expressão perturbada de Alec. Forçei a conversa a continuar para me salvar daquele desconforto.
- O que quer dizer com “precisava esperar por mim”? – Perguntei.
- Eu sabia que Aro ia te trazer pra cá e fazer todo o joguinho do “julgamento” pra ver se você cedia e ficava por aqui mesmo. E eu, bem, eu sabia que você ia mandar ele tomar naquele lugar. De início você não estava nos meus planos, mas depois do que aconteceu com Félix e Heidi...
- Você viu aquilo? – Perguntei perplexa.
- Eu estava com eles, fiquei esperando eles voltarem no nosso ponto de encontro, mas quando vi que eles estavam demorando demais, eu fui dar uma olhada no terreno. Encontrei as piras ainda acessas e você cuidando do cara todo arrebentado. Aí eu pensei que nós poderíamos unir forças, simpatizei com você. Você se parece muito comigo, fala o que quer e peita todo mundo, e o principal. Não tem medo de Aro. – Willian sorriu, e eu senti uma coisa estranha emanando dele. Nós imortais nossos muito sensitivos, muito abertos para esse tipo de coisa, e o que senti em Willian naquele momento era genuíno. Era um tipo de carinho fraternal mesmo, como se ele realmente se importasse comigo.
- Não seja idiota, ela não é nem de longe tão irritante quanto você, e também não é tão convencida ao ponto de se achar o máximo. – Resmungou Alec mau humorado.
- Olha quem fala, o principesinho de Aro. – Rebateu Willian.
- Eu não sou nada de Aro, e até onde eu me lembro, o príncipe aqui é você Willian – Provocou Alec. Eu me vi novamente no meio da discussão. Aqueles dois se pareciam muito com dois irmãos, implicando um com o outro em qualquer oportunidade.
- Ei, já chega gente. – Falei, sendo completamente ignorada. – EU DISSE QUE CHEGA! – Gritei. Os dois me encararam assustados, meus grito ainda ecoando pelo quarto amplo e praticamente vazio.
- E depois Willian? – Perguntei após me acalmar do último surto. – O que aconteceu depois?
- Bem, eu fiquei pensando num modo de me aproximar de você, de propor um trato, mas você não acreditaria em mim e eu ainda corria o risco de levar uma dentada. Então eu esperei e observei vocês, sempre escondendo minha presença. Quando você ligou para sua família eu fui obrigado a avizar Aro senão ele pensaria que eu estava traindo ele. Contei a ele o que houve e Ness, ele ficou muito louco. Ele gostava de Heidi sabe, ela distraía bem ele nas noites entediantes, e Félix, era o bulldog dele. Só sei que as ordens foram claras como cristal. Ele estava mandando Alec com um pequeno contingente da guarda para capturar você e sua família, e eu deveria auxiliá-los, é claro, por quê sem mim os capangas de Aro não chegariam nem três quilômetros perto de vocês. – Willian provocou, encarando Alec pelo canto do olho. – Contudo, quando Alec se encontrou comigo na floresta, ele me contou Aro queria que você e Alice fossem levadas para Volterra enquanto o restante seria executado alí mesmo. – Minha garganta se apertou, fazendo minha boca secar. Eu não consegui encontrar a coragem para prosseguir, para pedir que Willian terminasse. Tinha medo do que ouviria. Willian me observava, Alec não me olhava mas prestava atenção em cada respiração descompassada que elevava meu peito cada vez mais arfante. Observei o tempo passar em câmera lenta e as chamas das velas se extinguirem em meio as sombras do quarto. A noite estava silenciosa na superfície, nada se movia naquele quarto. Apenas as chamas fracas das velas dançando e criando sombras vivas em nossos rostos de pedra. Três seres imóveis conspirando no silêncio da noite, e nada mais chegava aos meus ouvidos.
Pisquei, encarando minhas mãos inertes sobre minhas pernas. Podia ver a palidez que se tornava cada vez mais pronunciada, a falta de sangue esfriando minhas veias, deixando meus coração mais lento, apesar de bater tão ruidosamente. As palavras dançavam em minha boca, embolando-se num nó incapaz de ser desatado. Eu não conseguia falar.
Os dois vampiros a meu lado permaneciam mudos, imóveis. Estariam eles lamentando minha perda? Respeitando o silêncio do meu luto? Era isso que estavam querendo dizer com aquele silêncio gelado? Que eles estavam mortos?
- Eles fugiram Ness. Eu deixei que fugissem antes de Alec e os outros chegar. Foi um pandemônio dos infernos, mas eu tive que liberar os poderes deles. Deixei que o grandão me derrubasse de propósito só para ter um pretexto para dar a Aro. Ele sabe que não sou vulnerável a pancada. Alec fez o que pode também. – Ele suspirou, contrariado por ter que admitir a ajuda de Alec. – Não sei por quê, mas ele me ajudou. Cegou todo mundo, até seus próprios guardas. Pegou você e a vidente e caiu fora. Tive que correr atráz dele para não ser massacrado junto com os outros guardas. Aquele lobo rasgou todo mundo, demoliu a casa inteira atrás de você. Mesmo cego e surto o danado ainda arrancava cabeças – Willian olhava-me aturdido, não sabia se o que dizia incitava ainda mais minhas lágrimas, que brotavam de meus olhos como uma vertente de água e sal. Eu não sei explicar o que sentia. Minha ampla educação não seria capaz de me dar palavras para explicar a sensação de alívio que senti. Era mais e mais correntes que se desprendiam de minhas pernas e braços, mãos e pés.
- Infelizmente eu não sei dizer o que aconteceu depois que saímos de lá. Ouvi mais tarde Aro ordenando aos guardas que sobreviveram que não deixassem de seguir o rastro deles por nada, e em seguida mandou Demetri para auxiliar nas buscas. Eles estão fugindo Ness, estão tentando arrumar um jeito de vir atrás de você. É o que eu faria. – Willian pegou minha mão, tentando conter meu choro desesperado. Alec apenas observava-me apreensivo.
- E o que vamos fazer agora? – Perguntou Alec, a voz suave que nunca se alterava. – Ela já sabe tudo que sabemos. – Ele trocou um olhar rápido com Willian, em seguida voltaram-se os dois para mim, esperando que eu decidisse o próximo passo. Pensei por um momento, tentando suprimir dentro de mim a euforia que tomava-me como uma onda de águas mornas e acolhedoras.
- Vocês precisam saber de algo também. – Disse, sentindo minha voz embargada pelo choro. – Precisam saber a falha no plano de Aro, a brecha pela qual nos vamos escapar. – Os dois olharam-me atentos. Eu enxuguei meus olhos na manga da blusa de tecido fino que usava e senti a quimação em minha garganta quando falei:
- Zafrina. Ela é a falha no plano de Aro. Foi por causa dela que eu fugi de casa, pelas visões que ela me enviou, me avizando do perigo.
- O quê? – Perguntou Willian descrente.
- O importante é que ela já nos mostrou a falha no plano de Aro. – Falei, ignorando a incredulidade de Willian. – Agora nos precisamos encontrar nossa brecha. E nós vamos começar agora.

Fanfic escrita por Anna Grey.

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