AVISO

Querido leitores de momento o Cold Blood Fanfics encontra-se em manutenção.

Voltaremos em princípio ainda este mês com mais novidades, colunas novas, entrevistas com autores de fanfics, etc..., provavelmente também com uma nova cara.

Por isso, se virem novos conteúdos no blog, não se "assustem" nem pensem que voltamos ao ativo.

Quando estivermos terminando postaremos uma mensagem.

Obrigada pela atenção.

A Equipa do CBF

The Sniper - Capitulo 3

3a Regra: Nunca se dê com ninguém fora do trabalho



Se haviam passado quase duas semanas desde meu último serviço e eu não saíra de casa nem para ir no WHF¹. Sentia como se minha vida não valesse mais a pena. Eu nunca pensava muito naquilo que fazia. Isto é, eu nunca pensava muito no meu trabalho ou nas consequências que isso poderia trazer. Não para mim mas para outros.
Para mim os alvos eram simplesmente isso. Alvos. Não eram pessoas, não eram amigos, filhos, pais de família, maridos ou namorados. Apenas alvos. Como se fossem pessoas sem alma, sem vida. Apenas alvos a abater que não fizessem qualquer diferença se estivessem vivos ou mortos.
Mas na outra noite eu percebi o quanto estava errado.

A imagem daquela criança sofrendo por seu pai. A imagem daquelas mulheres chorando por seus parceiros. A imagem de Demetri enraivecido pela morte de seu irmão… Era real. Eles eram pessoas. Pessoas com sentimentos. Pessoas com famílias. Pessoas que eram amadas. Por mais abominável que fossem seus erros e seus passados, eles eram pessoas.
Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos confusos. Um slide descontrolado de imagens deslocadas e sem sequência de todos os meus serviços, de todas as vidas que tirei…

Olhei para meu relógio constatando que era 00h08. O WHF fechava à 00h00, mas os funcionários só saiam de lá por volta da 00h15. Ainda teria tempo.
Pouco me importei com a roupa que vestia. Peguei apenas no meu casacão comprido preto e desci para a rua.
Minha cabeça estava a ponto de explodir e eu precisava de algum alívio. A bebida era o meu único alívio para momentos como esse. Não é que eu tivesse muitos. Como se eu tivesse consciência pesada para alguma coisa!
Diabos! Como eu fiquei tão lamechas desse jeito? Desde quando eu tinha consciência para essas coisas? Aah, droga! Minha cabeça está um lixo!

Atravessei a rua em passos largos e apressados e quando ergui o rosto a vi colocando a placa de fechado na porta. Bati com as mãos no vidro a sobressaltando e girei a maçaneta insistentemente.
Antes de fechar a cara para mim ela me olhou meio abalada, meio assustada, para depois apontar insistentemente para a placa. Eu montei uma carranca furiosa e continuei batendo no vidro forçando a maçaneta.
Jane apareceu atrás dela e abriu a porta para mim.

-Jacob. Nós já fechamos. Você está bem? – Jane perguntou alertada olhando para o meu rosto preocupada.

-Não, não estou. – Falei sinceramente, mesmo que ao que ela se referisse não tivesse minimamente a ver com ao que eu me referia.

-Emmett. Me ajude aqui. – Ela chamou alguém.

Um cara grandalhão apareceu apressadamente olhando para mim com o cenho franzido.

-Quer que eu ponha o cara daqui para fora? – Perguntou ameaçadoramente e eu fechei os punhos.

O cara não era páreo para mim. Ela permaneceu olhando para mim ameaçadoramente e Jane apenas escancarou a porta para trás.

-Por favor amor, traga Jacob para dentro. – Ela pediu para espanto de todos, menos para o meu.

-Jane, vocês têm de sair e eu não posso ficar aqui para sempre. – Ela brigou com a amiga.

-Eu fico com ele e depois o levo para casa. Podem ir embora. – Jane avisou depois que o tal de Emmett me carregou para dentro do restaurante.

Como se eu precisasse realmente de ajuda. Ela olhou para mim de relance e bufou de irritação ao tempo que cruzava os braços.

-Tudo bem. Eu fico com…ele. – A palavra final saiu quase como um rosnado controlado. – Vocês merecem essa folga agora que o Emmett voltou da Força Aérea. – Sua voz se tornou doce o que me extasiou por completo.

-Você tem certeza? Eu posso ficar com ele. Até porque ele só gosta de ser atendido por mim. – Jane sussurrou a última frase para ela.

-Se você tem coisas combinadas, pode ir Jane. Não vou me importar de dessa vez ser atendido por…ela. – Tentei controlar o gemido de satisfação por pensar em ficar com ela a sós, mas a palavra se converteu em um rosnado furioso que ao invés de a assustar, a fez formar uma expressão furiosa de quem estava a segundos de estilhaçar alguém. Nomeadamente eu.

-Tem certeza? – Jane perguntou a nós dois, como se só se dirigisse a mim.

-Absoluta. – Lhe sorri curtamente.

Jane se despediu da amiga com um beijo e foi ter com o namorado olhando perscrutadoramente para mim.

-Até mais, Bellita! – O tal Emmett, namorado de Jane, se despediu dela com um enorme sorriso, com umas covas nas bochechas.

-Se precisar de alguma coisa me liga. – Jane alertou.

-Ok. – Sua voz suou falha.

Antes de se virar para mim ela suspirou profundamente, tornou a amarrar o avental na cintura e a amarrar seus belos fios no topo da cabeça.

-O que vai querer?Ela tentou não soar rude e eu me culpei por estar atrasando mais seu descanso.

-Me desculpe por isso… - Eu nem sabia como falar e o que falar. – É melhor eu ir embora. Desculpe de novo. – Abanei a cabeça me erguendo do reservado e me encaminhando para a saída.

Ela me agarrou o braço e me parou. Não que ela tivesse força suficiente para isso, mas o toque de sua mão em meu braço me travou por completo. Lentamente olhei para ela. Sua expressão foi um pouco indescritível. Seu rosto demonstrava um espanto contido misturado com uma certa fúria, mas seus olhos brilhavam. Ela era um misto de contradições completamente envolventes. Me dava uma enorme vontade de a desvendar, de a conhecer melhor.

-Agora que você já perturbou, acabe com o serviço e peça aquilo que você tanto quer. – Ela acordou do transe cuspindo as palavras.

Seria pouco aconselhável se eu pedisse o que eu queria. Eu a queria.
Sorri automaticamente com esse pensamento o que a fez franzir o cenho e soltar sua mão do meu braço ao tempo que caminhava para trás do balcão.
Eu a segui me sentando em um dos bancos giratórios em frente ao balcão.

-Então. O que vai querer tomar?

-J.B. 25 anos. Tem?

Ela nada respondeu e apenas se virou para as prateleiras atrás dela, com uma seleção rigorosa de bebidas e pegou em uma das garrafas com o invólucro escondido.
Pegou em um copo de whisky e o encheu com a bebida.

-Duplo, por favor. Com três pedras de gelo. – Comecei com minhas exigências.

Ela me olhou de relance, como se quisesse me dardejar com seu mar de chocolate e eu não pude conter um sorriso, que ela supostamente não percebeu. Ou fingiu não perceber.

-Você costuma ser assim? – Perguntei quando ela praticamente me atirou com o copo para cima do balcão.

-Assim como? – Perguntou com uma mão na cintura.

Eu não lhe respondi de imediato. Peguei no copo e beberiquei da minha bebida tão lentamente quanto possível. Meus olhos permaneciam fixos nela e em seu rosto, que começava adquirindo uma leve tonalidade rosa.

-Arisca. – Por fim respondi passando a ponta da língua pela linha de líquido que a bebida tinha deixado em meus lábios.

Percebi sua bílis subindo e descendo em sua garganta enquanto ela engolia em seco.

-Só quando enchem muito minha paciência. – Murmurou apenas para si e eu apenas fingi que não havia escutado.

-Me fale de você. – Pedi e ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas. – Preciso de me distrair. – Pedi quase que derrotadamente.

As imagens começavam surgindo novamente e eu queria ao máximo mantê-las fechadas, atrás de uma porta de aço, em minha mente.

-Qual é o seu drama? – Questionou debochadamente.

-Prefiro falar sobre você. – Desviei os olhos dos dela me acomodando no banco.

-Sabe. Eu pensei que quem ficava atrás do balcão é que costumava escutar as lamúrias dos clientes. E não o contrário. – Ela cruzou os braços se encostando ao armário atrás dela, se mantendo o máximo possível afastada de mim.

-Eu não tenho lamúrias. Você tem? – Provoquei botando abaixo de uma vez o resto da bebida que ainda restava no copo.

-Você vai mesmo me obrigar a falar da minha vida? – Quase choramingou.

-Eu não vou obrigar você a nada. Apenas vou insistir bastante para você falar, até…que você fale. – Sorri maliciosamente e ela também não conteve uma risada.

-E porque você quer saber de mim? – Perguntou com um sobrolho erguido.

-Eu não quero saber de você. – Menti. – Perguntaria a mesma coisa se fosse Jane que estivesse aqui…ou outra qualquer. – Continuei mentindo. – Apenas quero manter conversa. E como eu não sou muito de falar

-Não é o que parece. Não parou de fazer perguntas e exigências desde que chegou aqui. – Me acusou sem um pingo de receio na voz.

Mais uma vez ela demonstrava ser totalmente diferente das outras. E isso me fascinava totalmente.
Eu fiz o gesto de um zípper se fechando em minha boca e a olhei furtivamente.
Ela se remexeu incomodada e soltou os cabelos. Eu tive de prender a respiração. Porque pura e simplesmente o ar sumiu de meus pulmões. Como ela conseguia ser tão linda, delicada, sensual e ao mesmo tempo tão simples e comum? …Completamente encantadora e irresistível.

-Meu nome é null, mas todos me tratam por null. Eu prefiro que me tratem por null. – Se corrigiu. – Tenho 26 anoseu não tenho muito jeito para isso. – Bufou batendo as mãos nas pernas e eu apenas estendi o copo para que ela me servisse de mais.

Ela pegou de novo na garrafa me servindo o copo quase cheio e depois colocou três pedras de gelo, me entregando o copo em seguida e me olhando inquisitiva.

-Não vai falar nada? – Perguntou.

-Você que reclamou que eu estava falando demais. – Provoquei e ela rolou os olhos.

-Melhor você fazer perguntas. – Pediu com uma mão, cruzando os braços em seguida.

-Família? – Perguntei e ela engoliu em seco abaixando os olhos.

-Órfã de pai e mãe. Sem irmãos. – Respondeu em um quase sussurro.

-Lamento imenso. Eu também só órfão. Sem irmãos. Nem ninguém. – Respondi no mesmo tom que o dela. – Namorado? – Perguntei em outro tom, mas a reação dela foi a mesma.

-Viúva. Com uma filha de 5 anos. – Respondeu mais cabisbaixa e eu engoli em seco quando senti um aperto enorme em meu peito, tão doloroso que meu coração ameaçou parar.

-Solteiro inveterado. Sem filhos. – Respondi no mesmo tom que o dela tentando compartilhar sua dor comigo. – Como ele morreu? – Não resisti a perguntar.

-Em um acidente aéreo. Edward tinha ido buscar meus pais. Eles estavam voltando de avião quando alguns pássaros entraram na turbina do avião parando os motores e o fazendo cair. – Contou.

-Isso foi há muito tempo? – Perguntei.

-Meio ano. – Vi uma lágrima solitária rolar por seu rosto me fazendo sentir um monstro por ter colocado minha curiosidade na frente dos sentimentos de null.

-Me desculpe. Me desculpe. Eu sou um verdadeiro idiota. – Falei desconcertado.

-Isso eu não posso negar…mas você não teve culpa. – Ela fungou limpando as lágrimas e sorrindo forçosamente.

Eu puxei da minha carteira e paguei as bebidas saindo do restaurante o mais rápido que pude. Ainda pude escutar null gritando meu nome e querendo ir atrás de mim. Mas eu fui mais rápido e entrei em meu prédio.
Henry, o porteiro que fazia o turno da noite, me entregou uma pilha de correio. Eu peguei a pilha sem sequer agradecer ou prestar qualquer atenção no correio e subi os seis andares pelas escadas de incêndio.
Assim que cheguei em casa bati a porta com força e caminhei até a sala me jogando sobre o sofá. Esfreguei as mãos no rosto sentindo uma vontade enorme de quebrar tudo à minha frente.
Como eu pude ser tão idiota, insensível…Minha linha de xingamentos foi interrompida pelo som do meu celular tocando.
O retirei do bolso das calças e encarei o visor com uma interrogação no rosto.

-Alô? – Atendi entediado.

-Sr. Black?

-Sim, quem fala? – Fui grosso.

-O seu contratador. – Meus músculos se tensionaram e minha mandíbula se cerrou. Me mantive em silêncio pensando porque razão eles estariam me contatando tão…diretamente. – Ouvi dizer que você não tem saído de casa e eu queria ter certeza que você ainda está em Buffallo e que vai realizar mais esse serviço que lhe enviei.

-Você anda me vigiando? – Rosnei pouco satisfeito.

-Apenas garantindo que você cumpre as regras. E então, vai cumprir o serviço que lhe enviei?

-Que serviço? – Perguntei vasculhando o correio e encontrando o maldito envelope castanho. – Só estou vendo agora. – Avisei colocando o celular em alta voz, o pousando em cima da mesa de centro e abrindo o envelope.

Assim que abri a pasta meus olhos saíram fora de órbita e meus punhos se cerraram de raiva.

-Mas que merda é essa!! – Bravejei colérico.

-Seu novo serviço. E espero que o cumpra direito. Estaremos de olho em você. – Terminou sua ameaça desligando o celular na minha cara.

-FILHA DA MÃE! – Gritei tacando o celular contra a parede e relendo pela segunda vez, agora atentamente, a encomenda.



Vocês se perguntam o porquê do meu ataque de raiva? Eu explico.
Porque eu conhecia Kate. Conhecia bem demais. Conhecia tão bem que até foi com ela que eu quebrei pela primeira vez uma das minhas regras. A terceira regra: Nunca se dar com ninguém fora do trabalho.

Eu estava sem tempo para pensar. Estava a um dia do prazo do serviço terminar e agora minha vida não vivia mais em função de minhas regras. E sim de minhas decisões. E a decisão mais difícil de se tomar nessa altura era: Matar ou não matar?
Minha cabeça tornou a fervilhar e eu só queria achar o botão de switch off ². Acabei pegando no sono no meio desse turbilhão de pensamentos. Acho que tinha finalmente achado o ditoso botão.

~~*~~

Sexta – feira: 12.11.2010 – 23h05 P.M.

Estava ali, na janela do prédio em frente ao escritório de Kate, sem ter certezas absolutas do que estava fazendo.
Eu nunca precisei de certezas. Eu apenas precisava das informações dos alvos a abater.

Um filme do tempo em que me relacionei com Kate passou pela minha frente. Kate foi a única que realmente se importou comigo. Ela me quis ajudar vezes sem conta a sair dessa vida que eu levava, mas eu devia tudo ao meu Mestre para o trair assim. E agora eu estava traindo a confiança e o amor que ela depositara em mim. Pela primeira vez eu estava com dúvidas sobre realizar ou não esse serviço.
Então eu a vi saindo do escritório e foi quando eu senti uma lágrima escorrendo por meu rosto. Abanei a cabeça em negação e retirei minha Sniper do apoio no mesmo instante em que a vi desfalecendo no chão. Olhei apressadamente pela mira e vi sangue jorrando de seu peito manchando sua gabardine bege. Alguém havia matado ela por mim!
Procurei insistentemente com a mira pelo segundo atirador e o vi no prédio do lado do dela guardando suas coisas apressadamente.
Eu fiz o mesmo e corri o mais rápido possível para fora do prédio a tempo de apanhar o outro atirador. Saquei da minha GLOCK e comecei disparando em sua direção. Ele se defendeu de meus tiros atrás de um carro e abriu fogo contra mim também.

Escutei ao fundo, ainda bastante longe de onde estávamos, o som das sirenes da polícia se aproximando.
Eu tinha duas opções. Caçar o filha da mãe até o ver morto, ou fugir. Optei pela primeira hipótese. Saltei por cima do carro o surpreendendo e antes que ele tivesse tempo de atirar contra mim eu já estava descarregando minha arma em seus miolos e peito.
As sirenes se aproximavam consideravelmente e eu não tive tempo para me despedir de Kate. Corri de volta para o meu carro e dei partida o mais rápido possível.
Só apenas dentro do carro eu percebi que meu braço tinha um raspão de bala. Mas isso era coisa para me preocupar mais tarde.

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¹WHF – Wagner Happy Food
² Switch off: Tradução para desligar.






Autora Baby Sun

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